Para além das nuances, parece haver duas questões centrais em jogo nas eleições de domingo. A primeira é se a esquerda, depois do desentendimento tático no chumbo do orçamento, merece uma segunda oportunidade. A segunda, é se o Chega estará ou não fora de qualquer cogitação para um arco de governo.
Há muito a dizer desta crise e desta campanha. A começar pelas perceções e pela realidade. Estará o país assim tão mal como a direita infere e os media alavancam? E os efeitos da crise pandémica não contam na equação?
Os números de Costa não têm sido desmentidos. Durante a sua governação houve uma enorme recuperação de rendimentos das famílias, as suas ‘contas certas’ deram ao país o seu primeiro excedente orçamental, a dívida pública em função do PIB reduziu e, entre outros itens, o investimento privado acelerou. Acresce a gestão da pandemia, que, com altos e baixos, não deixou ninguém para trás, travou encerramento de empresas e manteve o desemprego em taxas muito aceitáveis.
Tudo isto foi possível com o modelo de Estado social forte, que mostrou robustez e para onde, explica o primeiro ministro, foram canalizados meios financeiros de que não há memória, no conjunto da assistência social, saúde, educação e apoios às famílias e às empresas.
A esquerda do PS queria mais. E a campanha da direita tem feito tábua rasa deste esforço, lembrando problemas estruturais que ainda hoje nenhum governo conseguiu resolver.
No jogo estratégico de um Parlamento que vai ter que juntar forças desunidas para oferecer estabilidade ao país – a base para qualquer programa progressista -, os pequenos partidos serão charneira. E é possível que venham a ditar algumas regras. Faz parte do padrão eleitoral, usual no mundo democrático e temos que nos habituar.
No essencial, esta campanha eleitoral, ofereceu ao eleitor conceções de sociedade muito bem vincadas, ideias sociais e económicas muito diferentes e formas de construção destes ideais claras. Há muito por onde escolher, e é preciso fazê-lo este domingo, diminuindo a abstenção e tomando o futuro de cada um de nós e do coletivo nas nossas mãos. E mesmo que as perceções se sobreponham à realidade, o uso da arma do voto é o único caminho para seguir em frente.
Raul Tavares
Diretor