A nova bravata de Marcelo

O presidente da República deu, neste início da Legislatura, mais um sinal de que partiu para este seu segundo e último mandato com uma agenda política muito clara.

Há dois dias, no discurso de posse do Governo, ameaçou com a queda do Governo caso o primeiro ministro eleito não levasse o mandato até ao fim. Antes, logo após ter conhecido o elenco de António Costa, referiu, categórico, que se fosse ele a escolher seria “muito diferente”.

Há nestas últimas posições do mais alto magistrado da nação um certo ressentimento sobre o rumo que os portugueses escolheram em janeiro deste ano, oferecendo aos socialistas uma inquestionável maioria absoluta.

Marcelo Rebelo de Sousa, que elegeu os afetos como prioridade do seu primeiro mandato, arregaçada, agora, as mangas para fechar o seu mandato final dando a ajuda possível ao seu partido de sempre, o PSD. Foi por isso que não fez esforço algum para que se mantivesse a gerigonça; foi por isso que se imiscuiu na disputa eleitoral dos social democratas num apoio de surdina ao adversário de Rui Rio; e foi também por isso que a maioria absoluta de Costa lhe fez tamanha azia.

Ao tentar manter o primeiro ministro refém desta sua ‘bomba’, está a ingerir nos destinos da ação governativa e a sobrepor-se ao papel da Assembleia da República, que é o órgão político por excelência do nosso sistema democrático.

Quando se trata de jogos políticos, nada em Marcelo parece ser o que é. E ao disparar sobre tudo o que mexe, o presidente extravasa as suas competências e limita a ação dos outros agentes. E isso não é nada bom. Menos ainda quando, pelo que se afigura, poderem ficar degradadas as relações institucionais no que toca às funções de Estado entre o professor e o aluno da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

E o que quererá dizer o silêncio com que Costa tem respondido a estas investidas do inquilino de Belém?

Raul Tavares
Diretor