Culturas mais rentáveis e sustentáveis começam a ganhar raiz no Alentejo

Com os terrenos saturados com produções de oliveiras e amendoeiras, os agricultores viram-se agora para espécies de grande rentabilidade, que não necessitam de muita água nem de químicos. Conheça três dos produtos que começam a despontar e a impor-se.

Mais rentáveis e mais amigos do ambiente. Nos últimos anos a paisagem agrícola do Alentejo tem vindo a sofrer alterações devido ao surgimento de outras produções. Há sementeiras e plantações de novos produtos, que estão a despertar o interesse dos investidores, alguns deles sem qualquer antecedente ligado à agricultura. Frutos como o Goji e o pistácio ou as plantações de bambu estão, gradualmente, a conquistar terrenos aráveis.

Na Vidigueira as bagas de Goji, um fruto oriundo da China, são uma das principais novidades. São, para já, apenas dois hectares, mas capazes de produzir oito toneladas de bagas, aqueles que a Goji Natur planta anualmente. No futuro próximo a área cultivada deverá quintuplicar. Uma produção que, de acordo com o proprietário, Hugo Bacalhau, se iniciou em 2017 e que se tem revelado de tal modo interessante para os agricultores locais, que já há vários com intenção de se aventurarem no cultivo.

As sementes de Goji, que terão sido descobertas nos Himalaias há cerca de 2.500 anos, não são, no entanto, o único produto exótico pelas bandas da Vidigueira. É que bem próximo, na herdade denominada Navalha Pica-Pedra, ganha cada vez mais notoriedade e desperta crescente entusiasmo um plantio de bambu.

Eurico Santos é polícia (PSP) e agora, sempre que pode, trata, na companhia do sócio italiano, da plantação. Em 2017, conta, ele e o sócio, que já tinha algum conhecimento do que poderia render esta planta, resolveram investir num terreno com oito hectare quase à entrada da Vidigueira: “Toda a gente tem olival e, por isso, decidimos avançar para algo diferente. Fomos para o bambu”.

 

Produtos diferentes e muito menos dispendiosos

Também Pedro Dias quis apostar numa cultura diferenciada e, nas suas palavras, de rentabilidade muito elevada. Foi por isso que, nas imediações da Amareleja, concelho de Mourão, em vez de andar a plantar oliveiras ou amendoeiras, como agora está na moda, resolveu apostar no pistácio.

Seja bambu, pistácio ou bagas de goji, a verdade é que qualquer uma destas produções parece ser altamente satisfatória em termos financeiros. Junta-se a esse aspeto o facto de estas serem culturas que não causam grandes problemas ambientais e, quase todas, de produção rápida.

“Podemos dizer que um hectare comporta entre 3.500 a 4.000 plantas, sendo que cada planta produz seguramente mais de um quilo por campanha”, diz Hugo Bacalhau referindo-se às bagas de goji, as quais, em fresco e aos preços atuais, rendem dez euros por quilo.

Do preço também se não queixa Pedro Dias. A árvore pistácia vera que planta agora em dez hectares (espera aumentar a área de cultivo em mais quatro) demora cerca de cinco anos até começar a dar pistácios. É um tempo de espera que, diz o agricultor, acaba por compensar, uma vez que quando começa a produzir, acaba por dar 1.500 toneladas por hectare caso a produção seja de sequeiro, e atinge as 2.000 toneladas por hectare em regadio. “Em Espanha, onde este tipo de cultura está muito mais desenvolvida, a produção chega às 3.500 toneladas por hectare”, afirma.

O valor do bambu produzido por Eurico Santos também não é negligenciável. Os rebentos da planta podem ser utilizados para a alimentação em fresco ou em conserva, como se de espargos se tratassem, e podem render entre quatro e cinco euros o quilo. Já a cana, que é vendida ao metro linear, pode atingir, cada uma, os 15 euros, isto se chegar, pelo menos, aos 12 centímetros de diâmetro.

Há quem chame ao bambu o “plástico verde”. Trata-se de uma designação que pretende, acima de tudo, realçar o facto de esta madeira, muito utilizada na construção de mobiliário, estar a assumir-se, cada vez mais, como um substituto dos componentes plástico, considerados muito poluentes.

“É um produto de rentabilidade muito elevada, não só pelo que produz, mas também pelos gastos que não implica”, explica Eurico Santos, lembrando que o bambu consome menos água que um olival (basta, mesmo no verão, ser regado duas vezes por semana de modo a que o solo fique apenas humedecido) e que apresenta também a vantagem de o CO2 libertado poder ser transformado em oxigénio numa proporção superior em 30 por cento relativamente a outras plantas. “Além disso não nos podemos esquecer que a sua madeira é largamente utilizada no aquecimento das lareiras e que também não necessita de químicos”, acrescenta.

 

Forte potencial para conquistar mercado português

Plantado em maio, o bambu acaba por ter um primeiro corte aos três anos de idade. Depois, anualmente, são retiradas canas e rebentos. Um negócio que Eurico Santos diz estar quase só vocacionado para a exportação, para países como a Holanda, a Bélgica ou a Itália, mas que em breve poderá também ganhar novos compradores nacionais para além dos fabricantes de móveis da zona de Paços de Ferreira. É que, alude o agricultor, há cada vez mais novos investidores, seja no Alentejo, seja noutras regiões, como no Algarve.

Se o bambu já tem saída no mercado nacional, os pistácios (oriundos do Irão) ainda aguardam por uma grande aposta dos agricultores portugueses para que seja construída uma unidade que assegure a secagem, tiragem da pele e embalagem.

Pedro Dias envia para Espanha quase toda a sua produção, sendo um dos cerca de 130 associados da Associação de Pistacheiros da Estremadura. É que em Portugal, apesar de existirem culturas no Alentejo (Portalegre, Évora e Beja), e também nos distritos de Bragança, Vila Real e Castelo Branco, ainda faltam unidades de tratamento e transformação. “A planta aguenta temperaturas muito baixas, que podem ir até aos cinco graus negativos, mas também outras muito elevadas, superiores a 40 graus. Talvez por isso se dê bem em todo o Alentejo”, diz o produtor, que tem na venda dos frutos secos para snack e também para o fabrico de gelados os principais negócios.

Também as bagas de Goji costumam ser vendidas para snack. Hugo Bacalhau refere, no entanto, que este super alimento – porque “contém 18 aminoácidos diferentes, entre os quais oito essenciais para o organismo humano, e 21 minerais, para além de diversos tipos de vitaminas e de polissacarídeos (que fortalecem o sistema imunitário e previnem o envelhecimento)” – não necessita de cuidados muito especiais. “Os arbustos de Goji são bastante resistentes havendo apenas um cuidado a ter e que é não haver muito encharcamento do terreno, pois sofre muito com asfixia radicular”, explica.

Utilizadas também em saladas, iogurtes ou adicionadas a cereais, as bagas de Goji são cada vez alvo de maiores atenções por parte dos eventuais investidores. Hugo Bacalhau menciona que, só no Alentejo, tem conhecimento de sete plantações com variedade igual à que planta. O mercado sorri, mas há um alerta que é feito aos consumidores: Nas bagas desidratadas não devem consumir diariamente mais do que 30 gramas. O alto teor em vitamina C assim o aconselha.