“Com o rabinho entre as pernas”

Imagine o caro leitor que há alguém (chamemos-lhe o Vizinho Z) que há muito tempo inveja a casa do vizinho (o vizinho U).

Vivem ambos (os vizinhos, o Z e o U) num condomínio com vivendas e existem duas associações, digamos que rivais.

A vivenda do vizinho U confina a do Vizinho Z, ou seja, é contínua de um dos lados com a desse vizinho U que tem vista para o rio, aliás, é servida pelo rio e, para piorar as coisas, até lhe tapa essa vista e essa passagem directa.

Pior, o raio dos vizinhos U, até se dão melhor com os outros vizinhos, do que consigo e esses outros vizinhos, novos amigos do vizinho U, pertencem à outra associação, portanto, começa a vê-los como hostis.

Se publicamente até os ouvir dizer que estão a ponderar entrar nessa associação, depois de eles em tempos lhe terem garantido que não o fariam, começa a ficar desconfortável e até os começa a chamá-los de Nazis.

Tem de acabar com eles. Começa a congeminar como o fazer

Primeiro invade-lhes uma parte do espaço e com a complacência dos restantes condóminos e das duas associações, apesar do desconforto que o seu acto de demonstração de força provocou, todos acabam por aceitar e o seu vizinho U, resigna-se.

Ou seja, parte do espaço do vizinho U, passa para o vizinho Z, com todos os outros a fingirem que não viram para evitar uma guerra.

Entretanto começa a insultá-los, a chamar-lhes Nazis e a dizer que se eles continuam a dizer que vão entrar na dita associação, que os invade.

Estuda a casa do vizinho muito bem, estuda o melhor momento para actuar, esperando, por exemplo uma mudança de vizinhos, diria, dos mais poderosos, uma altura em que entenda que todos estão mais ou menos desatentos e mais preocupados consigo próprios do que com a justiça e,…zás, invade a casa dos vizinhos U

Mata uns, aprisiona outros, viola, tortura toda a família e chama-llhe uma “operação especial” para os desnazinar.

O que o Vizinho Z não contava era com a resistência dos vizinhos U. Apesar de alguns mortos, de terem a sua casa destruída, têm uma dignidade e uma força interior notáveis e organizam-se. Os outros, todos os outros, condenam a agressão, mas não se metem directamente. Fornecem-lhes armas, apoio logístico, solidariedade, mas deixam-nos a lutarem sozinhos. Digamos que em seu nome, mas se alguém morrer, que sejam eles.

Aliás quando for necessário tomar medidas que afectem o seu bem-estar, como por exemplo ficar sem ar condicionado, sem energia, etc, então, “alto e para o baile” que temos de repensar essas medidas.

Apesar de tudo o “tiro” sai furado ao vizinho Z, que apesar de se ter instalado na casa dos U, de ter plantado o seu símbolo “Z” em todo o espaço, aos poucos teve de ceder, foi perdendo posições estratégicas, foi perdendo generais e, sobretudo, perdeu a face e o respeito de todos.

De todos? Não. Há uns vizinhos, que por acaso são comunistas (mas não contem a inguem, ok?) que até tinham minimamente o respeito de todo o condomínio, porque eram persistentes nas suas ideias, mesmo que já ultrapassadas e bacocas, mas ao menos eram coerentes e, por isso, minimamente respeitados por todos, que resolveram “branquear” a atitude do vizinho “Z”.

E de tanto apregoarem o caminho para a paz, nunca se aperceberam que quem defende a paz e aplaude a guerra, vai ficar a falar sozinho e da próxima vez já nem um elemento vai eleger na assembleia do condomínio.

Ah…e o Vizinho U, vai acabar, também ele, um dia a falar sozinho e a retirar-se, “com o rabinho entre as pernas”.

UM CAFÉ E DOIS DEDOS DE CONVERSA
Paulo Edson Cunha
Advogado