Há dezenas de militantes a bater com a porta devido a decisões da nova cúpula do partido e processos a rolar nas instâncias nacionais. O líder da distrital diz que “vai aguentar até que seja possível”.
A distrital de Setúbal do CDS-PP admite a debandada de dezenas de militantes que foram obrigados a cumprir um pagamento de quotas que, segundo o seu líder, João Merino, “não cumpre o que está ratificado nos regulamentos”.
Até à eleição de Nuno Melo, o novo presidente do partido centrista, o pagamento de quotas valia seis euros anuais e acima disso “eram de valor facultativo”. Agora, cada militante tem que pagar dois euros mensais. “Esta alteração foi alvo de um processo interno, porque só o Congresso pode decidir estas matérias de acordo com os regulamentos”, explica João Merino ao Semmais. E acrescenta: “Ainda hoje recebi uma mensagem a dar conta da saída de mais 17 militantes”.
Este problema, no entanto, é apenas a ponta de um enorme iceberg que está a “impedir que a distrital dê continuidade ao trabalho desenvolvido nos últimos anos”, nomeadamente a “angariação de novos militantes” e, pela primeira vez na história centrista, a existência de estruturas em todos os concelhos do distrito. “A nova direção está a passar por cima da distrital e a condicionar a nossa atividade, porque está a dar poder aos derrotados nas últimas eleições distritais”, garante João Merino.
Em causa, por exemplo, está o processo da votação em Sines, nas eleições de 12 de março, que reconduziram a atual distrital. “Houve problemas de distribuição de votos para a Mesa da Assembleia e para o Conselho de Jurisdição Distrital, que levou à repetição do ato eleitoral a 26 de março. Por essa razão, e de forma ilegal, suspenderam todos os órgãos, mesmo que nas duas ocasiões a lista liderada por mim tivesse ganho”, lembra Merino.
Derrotados na distrital voltam a ter todo o poder
Agora, já com a nova direção nacional eleita, diz que não sabe se está, se não está ou se vai estar suspenso. “É uma grande confusão intencional”, afirma, criticando o facto de a pessoa que está mandatada para resolver estes problemas seja João Viegas, o novo secretário-geral do partido e seu opositor de sempre em Setúbal.
O presidente da distrital não tem dúvidas de que “estamos perante um acerto de contas”, sendo um “péssimo sinal” nomear para as cúpulas do partido pessoas em relação aos quais os militantes na região não se reveem. “É ainda mais grave ter estas pessoas como interlocutores da nacional, pois ajudaram, nos últimos 20 anos, a deixar o CDS-PP de rastos, incluindo a nível financeiro”, refere.
Para além da razia de militantes, “para que voltem os sindicatos de voto e a limpeza dos que discordam”, João Merino acusa ainda a cúpula do partido de fazer tábua rasa da distrital eleita legitimamente pelos militantes. E conta o episódio da Feira do Porco, no Montijo, cuja delegação dos centristas foi chefiada por João Viegas, tendo ele próprio, enquanto líder do partido no distrito, sido convocado na véspera do evento. “É como se as nossas estruturas não existissem”, critica.
“Vou até às últimas circunstâncias enquanto estiverem a decorrer estas tramitações processuais internas. E sempre defender o CDS-PP, se chegar à conclusão de que se trata de uma causa perdida, ponderarei os passos seguintes. Neste momento, continuo firme e com vontade de lutar pelo partido, contra este oportunismo de gente que só está no partido por interesses e por poder”, finaliza.