Jogos de máscaras

A situação no Leste europeu continua tensa, com a guerra de Putin a durar mais que o pensado, e com o Ocidente a aproveitar as aparentes fragilidades russas para alavancar as suas posições de segurança, ou mesmo bélicas.

Trata-se de um jogo de máscaras, porque ambos os lados e as suas partes querem mais do que afirmam e, em última instância, esperam mesmo alcançar desejos antigos.

Quando se tentou a aproximação da Federação Russa ao espetro do mundo ocidental – e são muitos os exemplos, a começar pela Alemanha de Angela Merkel – Vladimir Putin, deixou-se levar, porque queria robustecer o seu poderio militar e atenuar as fraquezas de uma economia que chegou a bater no fundo após a queda da então União Soviética.

Putin criou o seu jogo de máscaras e enganou meio mundo. A tentação e o desejo de trazer para o seio da mãe Rússia a grande nação ucraniana não começou em 2014, como consta de muitas narrativas. Há um incomensurável conjunto de factos que provam que este objetivo central esteve sempre na mente do oligarca, que se tornou ditador, desde a sua chegada ao poder presidencial no ano 2000.

Mas há mais máscaras a cair. Com essa aparente mas enganosa aproximação do Leste à Europa ocidental, os Estados Unidos, da Era Trump, quiseram desinvestir da NATO. Mas nunca ousaram pensar que a Rússia deixou de ser um inimigo figadal. Está provado que não.

Putin está agora a braços com uma encruzilhada sem saída. Com o esforço de guerra a prolongar e o aperto das sanções, a agonia económica acentuar-se-á. Mesmo que se vislumbre outros apoios, como o da China. E deu pretexto para outros saltos da história como a entrada na Aliança Atlântica da Finlândia e da Suécia, neutrais desde sempre.

E mesmo a China, com esta posição dúbia de estar e não estar ao lado dos russos, certamente quererá manter acesa a chama da globalização, o traçado e perfil económico que mais se ajusta à sua contínua progressão nos mercados internacionais e sua força imperial.

Com estes entroncamentos decisivos no xadrez político da cena internacional, a União Europeia tem chances mas também ameaças. A Europa dos valores, democrata e das sociedades liberais, ficaria a ganhar com a aproximação natural aos países de Leste, incluindo a gigante Rússia. Isso, para já está fora de alcance. Com este golpe que Putin desferiu ao mundo, a UE ganhou algum fôlego, mais unidade, mas vai militarizar-se e embrenhar-se ainda mais nos teatros americanos.

E mesmo que todos cantem vitória no pós guerra, e que se não chegue ao desvario de um belicismo ainda mais pernicioso, capaz de mutilar muitas das esperanças nascidas após a II Guerra, o mundo não será o mesmo. Está por saber, apenas, que nova ordem mundial acabará por vingar.

Raul Tavares
Diretor