Num belo poema canção, inspirado por Luis de Camões e imortalizado por Fausto, José Mário Branco e Sérgio Godinho em 2009, fomos relembrados com raro encanto que “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” e que se “todo o mundo é feito de mudança” e que se for necessário podemos “trocar-lhes as voltas que ainda o dia é uma criança.
Recorro a estes belos versos para recordar que se é verdade que a pandemia e a invasão da Ucrânia mudaram de forma brutal o mundo em que vivemos, os seus impactos ainda agora começaram. Já não podemos evitar o que sucedeu, mas podemos e devemos estar preparados para trocar as voltas às suas consequências.
Olhando para o nosso Alentejo, podemos antecipar boas oportunidades no domínio do turismo sustentável, das energias renováveis e da fixação segura de indústrias, serviços e de nómadas digitais altamente qualificados. Ao mesmo tempo, a carestia de vida e as roturas das cadeias de produção não deixarão de nos afetar, em particular as comunidades e os setores mais vulneráveis.
Tal como o dia ainda é uma criança, o novo governo central e os novos executivos autárquicos também estão na sua aurora e a implementação do Quadro Financiamento Plurianual 2021/2027 e a aplicação do Programa de Recuperação e Resiliência estão também agora a começar a ser transpostos para os planos de ação e para as ações em concreto. Estamos por isso a tempo de lhe trocar as voltas se for caso disso.
Já aqui referi e reitero que concordo com as grandes linhas estratégicas definidas para o desenvolvimento da nossa região. Considero que a chave vai estar no processo e no envolvimento dos diferentes atores na sua concretização e no foco que conseguirmos colocar em medidas que são estruturantes para a aplicação de todas as outras. Exemplos de medidas cruciais são a garantia de dignidade do trabalho sazonal, a promoção generalizada da literacia digital, a abordagem integrada dos projetos de energia e de digitalização e a criação de estruturas para agregar células viáveis de fixação de massa crítica no território.
Os impactos da guerra exigem revisões refletidas no domínio da proteção dos mais vulneráveis que no plano individual e comunitário, quer no plano empresarial. E que se troquem as voltas se necessário. Mas para trocar temos que estar unidos no essencial e que ter estruturas o mais robustas possível, que no plano do associativismo empresarial e social, que no plano autárquico, quer nos órgãos desconcentrados da administração central na Região, em particular naqueles que exercem funções de coordenação. Se o dia ainda é uma criança, precisamos na muita maturidade e bom senso na forma como vamos criar condições para ele crescer saudável e feliz. Sem Mais.
Carlos Zorrinho
Eurodeputado PS