Nasceu «no país ao qual as voltas da vida não lhe permitiram voltar, vindo para um país estrangeiro, Portugal, apenas para prosseguir estudos universitários, em curso que nesse tempo não existia em Angola».
Um recente testemunho seu: «Mas nas Férias Grandes regressava a casa, em Luanda. Um ano, entre o final dos ’60 e o princípio dos ’70, no regresso a Portugal, ouvi durante mais de meia hora os altifalantes do aeroporto dizerem: “Passageiro Sr. Victor Silva, é favor dirigir-se ao balcão de embarque”.
“Passageiro Senhor Victor Silva, é favor dirigir-se ao balcão de embarque”.
Até que se me acendeu uma luzinha dentro de mim. Estão a chamar por mim? Lá me dirigi ao referido balcão onde me informaram que o meu voo na TAP tinha sido antecipado, e que só não perdera o avião porque a minha bagagem já estava nos porões, que tinha de ser esvaziada para ser retirada caso eu não aparecesse, pois poderia ter um engenho explosivo. E prontus, sanado o incidente, lá foi um autocarro levar-me rápida e expressa- mente ao avião. Na verdade, no PCP, no movimento estudantil e sindical, em toda a parte, sou conhecido como Victor Nogueira e não como Victor Silva.
Vem isto a propósito de um amigo do Victor – este hoje com 76 anos de idade e residente em Setúbal, onde muito trabalhou e militou, – num encontro de há dias num snack-bar da Baixa, ter enfatizado com algum bom humor que ambos eram do melhor do mundo, escolhidos a olho, com os primeiros e os últimos nomes a iniciarem-se por V e a acabarem em S (VS, VS).
A vaidade maior dele trouxe-lhe à vista uma lágrima, tantos anos não fazem esquecer nada, «Estamos no Centenário do Agostinho Neto…». Já no sábado, 15 deste mês, desta feita passageiro do autocarro alugado pelo movimente sindical unitário a caminho da grande Manifestação Nacional da CGTP-IN, em Lisboa, vincou com punho cerrado: «Vamos à defesa da nossa TAP, da nossa TAP de todos!!!»