Os tempos que correm são de grande incerteza. Desde o arranque de 2020 que o país, a Europa e o mundo, estão sob uma constante linha vermelha, que se acentua, sobretudo, nas áreas sociais.
Foi a pandemia e agora a guerra a interromper um ciclo que se aparentava sólido, equilibrado, numa recuperação económica e financeira que os números, à época, não deixavam dúvidas.
Atingiu-se o défice zero, as contas certas prometidas davam segurança e boas perspetivas, o país parecia querer avançar.
Agora, nesta fase, que tudo indica está para durar, mais uma vez os decisores políticos vão ter que acudir às famílias, aos pensionistas e às empresas, sobretudo às pequenas e médias em- presas que mais dificilmente conseguirão aguentar os custos de contexto, as quebras de mercado e a carestia inflacionaria de todos os cabazes de compra.
Esperava-se, contudo, que o país político, do Governo às oposições, estivesse mais ciente destes tempos conturbados e das exigências que os mesmos acarretam. E isso não sucede.
O que se tem verificado é outra coisa, e bem pior. Esta sucessão de crises e dificuldades está a ser cavalgada para acentuar as lutas partidárias e os egos das lideranças partidárias – umas por- que precisam de marcar terreno no espectro ideológico, outras porque necessitam de consolidar diferenças internas, outras ainda por sim – em nome de projetos eleitorais em que o bota-abaixo e a cegueira sem dó fazem escola. A par disso, a maioria deixa-se enrolar, numa constante mediatização de casos e afins, que enlameiam o nosso quotidiano.
É verdade que o país económico não dá para tudo e a situação exige respostas assertivas, muito jogo de cintura e, sobretudo, uma gestão criativa dos dinheiros disponíveis. Mas enquanto isso, os portugueses apertam o cinto, ganham mais, mas gastam muito mais, a par das empresas-abutres, nomeadamente as energéticas e as da distribuição, capazes de sorver até ao tutano os excessos e as sobras.
A caminho de um ano que se prevê ainda mais difícil, seria bom que não se esquecessem que a governabilidade não depende só de uma parte, mas sim do todo. E que é possível, em situações de crise, como esta, fazer política construtiva. O país e os portugueses agradecem.