É mais fácil destruir do que construir

Há 40 anos, os municípios da Região de Setúbal entendiam que tinham interesses em comum, que importava defender este território e estas populações, que po- diam desenvolver projetos em parceria e ajudar-se mutuamente, por isso, criaram a Associação de Municípios.

Durante 4 décadas, os milhares de projetos, grupos de trabalho, redes, estudos, candidaturas, debates, tomadas de posição, pareceres e parcerias que não cabem aqui, prestigiaram a Associação e tornaram-na num instrumento ao serviço dos municípios.

Aqueles que não perdoam que a Região de Setúbal tenha agentes de desenvolvimento com pensamento e voz própria, comprometidos com os interesses deste território e das suas gentes, sem estar submetido a quem está circunstancialmente no Governo, têm dificuldade em compreender o sentimento de pertença a esta região e a necessidade de ela não estar curvada perante a centralidade da capital Lisboa, com quem naturalmente se relaciona, mas não se subjuga.

Esse sentimento está bem patente em políticas governamentais que se traduzem no desinvestimento da administração central em infraestruturas e serviços públicos ou nos anúncios de investimentos estruturantes feitos com toda a pompa, mas nunca concretizados, na surdez com que escutam as propostas da região, na desresponsabilização por competências próprias.

Lamentável é que existam eleitos nos órgãos do poder local que revelem estar mais interessados em defender o governo do que a região e as suas populações – entre outros exemplos, assim é no caso do Aeroporto, onde vão mudando de convicção ao sabor das hesitações do governo, assim é no caso do Serviço Nacional de Saúde, onde evitam tomar posição clara sobre o encerramento de urgências e outros serviços na nossa região para não melindrar o governo.

Deste modo, é mais fácil compreender o que está em causa quando, no momento em que a AMRS comemora os seus 40 anos, o PS decidiu partida- rizar a referida associação e dividir municípios em função da força maioritária que os governa, em vez de os unir em torno dos problemas, dos projetos e interesses comuns que têm.

A desvalorização do trabalho realizado ao longo de 4 décadas, o descrédito que dão ao trabalho realizado pelos técnicos dos seus próprios municípios, no âmbito da AMRS, na construção de soluções e projetos intermunicipais, a ignorância demonstrada na maioria das intervenções realizadas, constituem elementos confrangedores e empobrecem a discussão sobre o tema.

Há quem chegue a afirmar desconhecer o que a AMRS (leia-se os seus municípios em conjunto com outros) fez em defesa da correção de injustiças relativas em matéria de distribuição de fundos comunitários e das assimetrias de desenvolvimento na Área Metropolitana de Lisboa, antes e depois de 2013, com o fim da NUT III.

O PS, neste mandato, tinha duas opções: reforçar o trabalho da AMRS com a sua intervenção e posicionamento próprio, até com uma maior proximidade ao Governo e à atual maioria parlamentar, procurando dar mais voz aos interesses comuns dos municípios que integram a AMRS ou contribuir para a sua divisão e enfraquecimento.

Coerente com o seu projeto, o PS foi pelo caminho mais fácil.

Perde a Região e as suas populações e fica por compreender o que ganha o PS com isto.

Esperemos que ainda possam corrigir este caminho e compreender que estes municípios, estes territórios e populações, têm muito mais a uni-los do que a separá-los e que juntos podem muito mais.