Tradições num Natal que não pode fugir à esperança

As últimas chuvadas que, em algumas zonas das nossas regiões, voltaram a fazer mossa, acrescentaram a um Natal muito ofuscado pela crise económica, um efeito ainda mais nefasto.

Mas para além da chuva e do frio, que adornam as tradições natalícias neste cantinho do mundo, há problemas maiores que se têm agravado neste período negro da História. A guerra na Ucrânia não desengata, a crise alimentar ameaça agravar-se à escala mundial, e mesmo a inflação galopante que vai perdendo gás não parece ter grandes efeitos nos nossos bolsos.

Acresce um universo político periclitante, com lastros de populismo e de corrupção, mesmo no coração da União Europeia, que não oferecem nem paz de espírito nem vislumbre de melhoras. Enfim, é a desordem mundial que vai cavando fossos. Mais pobreza, mais miséria, mais diferenças entre pessoas, povos, nações e continentes.

Resta a esperança e a solidariedade que infelizmente só ganham mais vitalidade nesta época em que os corações estão mais despertos e vigilantes para um olhar para o lado, para os outros, seja em forma de compaixão, seja mesmo por altruísmo.

São estas réstias que a quadra natalícia vivifica e que devem ser aproveitadas como oportunidade para repensar a nossa forma de estar em sociedade e sobre este nosso mundo, a braços com tantas incertezas e muitos caminhos sinuosos.

Optámos, nesta edição, por ouvir e saber dos outros, os que as regiões de Setúbal e do Alentejo acolheram no seu seio. São outras tradições, costumes e vivências numa coabitação que se pretende sã e frutífera. Neste caso alunos que estudam no IPS e no IPBeja oriundos de muitas partes do globo e a comunidade ucraniana, obrigada que foi a zarpar do seu país para fugir dos horrores da guerra.

De resto, ficam também retratos de algumas das nossas instituições de solidariedade social, que minimizam carências de muitas e muitas famílias, algumas escolhas tradicionais de ementas que perduram nos tempos e outras sugestões para que este Natal pelo menos abafe as intempéries da vida.