Escuridão e vergonha

Já praticamente tudo foi dito sobre essa vergonha que abalou a igreja católica portuguesa e todos os que na mesma se revêm, seja por razões culturais, seja por crença religiosa, seja mesmo por simpatia pela enorme obra social erguida e em pleno funcionamento.

Mas é exatamente nos meandros dessas causas sociais, que cobrem o país de Norte a Sul e ilhas, que os abusos ocorreram e ocorrem, sem que a Instituição – clero, acólitos e leigos – tenha feito alguma coisa para denunciar e fazer castigar os padres e outros ao seu serviço destas prevaricações e crimes.

Esta é, afinal, a grande machadada que faltava no sentido de abater sobre a ancestral Igreja de Pedro, o anátema que a tem feito perder reconhecimento e fiéis. Nada mais pobre podia acontecer para desfazer tão grandiosa obra e sangrar seguidores para outras igrejas menores, seitas e grupos usurpadores das convicções religiosas de tantas e tantas famílias portuguesas.

A Instituição Católica Apostólica Romana não tem desculpa. Durante antes, os seus dirigentes máximos, obrigados a servir e a despojarem-se de tudo o que é mundano, ocultaram e protegeram de forma vil estes abusadores criminosos, sem cuidar do essencial e do foco principal da sua atuação, as vítimas. Mais, deixaram-nas viver com a mácula de uma culpa sórdida, em percursos de sofrimento atroz, muitos deles continuando a viver lado a lado com este rol de gente perversa, predadora e doente.

Por isso tem que haver consequências, nem que seja a obrigação de indemnizar cada um dos abusados e suas famílias, também elas vítimas deste sofrimento prolongado. E, que, depois do culminar dos processos judiciais, cada culpado pague pelos seus crimes sem apelo nem agravo.

Que saiba a Igreja Católica Portuguesa virar a página e, finalmente, dar uma lição de que é possível dentro desta escuridão encontrar alguma réstia de Luz, de modo a não se perder definitivamente neste nevoeiro que a assombra.