A Câmara de Vendas Novas, no distrito de Évora, voltou hoje a exigir o reforço dos serviços públicos no concelho, devido ao aumento de imigrantes, lamentando a falta de apoio das instituições do Estado perante o fenómeno.
“Ao nível das instituições públicas, infelizmente, quase ninguém quer saber de nós, nem perguntam se estamos a lidar bem com a situação ou não”, lamentou o vice-presidente do município, Valentino Salgado Cunha (PS), em declarações à agência Lusa.
O autarca falava a propósito de uma reunião com o Alto Comissariado para as Migrações, realizada esta semana, na qual participaram responsáveis das juntas de freguesia de Pegões (Montijo) e de Vendas Novas e do agrupamento de escolas.
A autarquia já tinha pedido ao Governo o reforço dos serviços públicos aquando de uma reunião com a secretária de Estado da Igualdade e Migrações, Isabel Almeida Rodrigues, que decorreu em novembro passado.
Este concelho alentejano, referiu, tem registado “um aumento muito significativo da população imigrante”, com origem, sobretudo, em países como a Índia, Bangladesh, Nepal e Paquistão, entre outros.
“Os cidadãos estrangeiros são muito importantes para a nossa atividade económica, tendo em conta que temos um desemprego muito baixo, mas queremos recebê-los com condições”, sublinhou Valentino Salgado Cunha.
O responsável, que tem a seu cargo o pelouro do Desenvolvimento Social e Inclusão, realçou que a chegada destas famílias está a provocar pressão nos serviços do concelho e deu como exemplo o caso das escolas.
“Desde setembro, já tivemos mais 50 alunos estrangeiros, que não falam português, com tudo o que isso exige ao nível de contratação de pessoal docente e não docente”, salientou.
Considerando que as autarquias se sentem “um bocadinho abandonadas pelas instituições públicas”, o vice-presidente do município exigiu o reforço de serviços públicos e “uma verdadeira fiscalização no terreno”.
“Ninguém parece querer saber, mas, quando acontecem desgraças, é que vem tudo socorrer e, aí, as culpas acabam sempre por vir para a câmara, que não tem meios nem capacidade técnica para fazer face a este aumento significativo de população”, vincou.
De acordo com o autarca, instalaram-se no concelho de Vendas Novas, durante o ano de 2022, “pelo menos, 500 cidadãos” estrangeiros, um número que tem como “base os atestados de residência das juntas de freguesia”.
Questionado pela Lusa sobre eventuais problemas de integração, Valentino Salgado Cunha indicou ter conhecimento de “um ou outro conflito, especialmente, dentro da própria comunidade” e de “situações pontuais com a população nativa”.
“Não há e não se tem sentido um problema de conflito permanente e ativo com a população que já cá residia”, assegurou.
O vice-presidente da câmara assinalou que, com base na informação dos atestados das juntas de freguesia, haverá “15, 16 e 17 pessoas que vivem numa única casa”, mas avisou que o município não tem competências para assumir a fiscalização.
“Seria importante, não só as instituições de controle da imigração, mas também a Autoridade Tributária ter alguma atuação na região”, defendeu.
O autarca revelou ainda que o município está a trabalhar para a constituição de um Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes (CLAIM), vincando, porém, que “o problema estrutural é que tem de ser resolvido, que é o reforço de serviços públicos”.