Dois jovens indiciados pelo homicídio de um rapaz de 15 anos em outubro de 2020, nas imediações do Centro Jovem Tabor, onde a vítima e os arguidos estavam institucionalizados, começam a ser julgados na segunda-feira no Tribunal de Setúbal.
Os dois arguidos, Leandro Vultos, agora com 19 anos, e Ricardo Cochicho, de 18, estão indiciados, entre outros crimes, pela morte de Lucas Miranda, em 15 de outubro de 2020.
Leandro Vultos está indiciado pelos crimes de homicídio qualificado, profanação de cadáver e ameaça agravada, e Ricardo Cochicho como cúmplice da prática do crime de homicídio qualificado e como coautor de um crime de profanação de cadáver.
A Polícia Judiciária de Setúbal, que deteve os dois jovens em março de 2021, disse na altura que o homicídio de Lucas Miranda tinha sido consumado num terreno abandonado e que o cadáver, embrulhado num lençol, foi atirado para o interior de um poço seco, contíguo ao Centro Jovem Tabor, em Setúbal.
O Centro Jovem Tabor é uma instituição particular de solidariedade social (IPSS) sob a dependência da Diocese de Setúbal da Igreja Católica, que acolhe jovens com dificuldades de inserção na sociedade.
De acordo com a acusação do Ministério Público, o jovem Lucas Miranda foi acolhido na IPSS em 02 de outubro de 2020, por decisão da mãe adotiva, o que o fez sentir-se rejeitado e a manifestar a outros jovens da instituição o desejo de morrer, alegando que só não se suicidava por falta de coragem.
O Ministério Público refere ainda que os arguidos – ao contrário de outros jovens que apelavam a Lucas para que colocasse de lado tais pensamentos – entenderam que os desabafos do jovem constituíam um pedido de ajuda para que o matassem, o que ambos acabaram por fazer com a anuência prévia da própria vítima.
O despacho de acusação refere ainda que a morte de Lucas Miranda terá ocorrido por asfixia mecânica, depois de Leandro Vultos lhe ter aplicado dois golpes de mata-leão (técnica de estrangulamento).
Os dois arguidos terão ainda tentado criar um cenário que desse a ideia de um suicídio por enforcamento, mas, posteriormente, decidiram atirar o cadáver para o interior de um poço seco.
A responder perante o coletivo de juízes do Tribunal de Setúbal, no âmbito do mesmo processo, estará também Rodrigo Soares, de 18 anos, que está indiciado pela prática de diversos crimes de ofensas à integridade física simples e de ameaça agravada a outros jovens do Centro Jovem Tabor, mas que não foi acusado pelo homicídio de Lucas Miranda.
A primeira sessão do julgamento está marcada para as 10:00 da próxima segunda-feira, 20 de março, no Palácio da Justiça de Setúbal.