Peça aborda dilemas atuais, como questões em torno dos conceitos de liberdade e democracia, numa alegoria à sociedade representada num galinheiro.
“O Último Galinheiro”, uma coprodução entre as companhias Teatro Estúdio Fontenova, de Setúbal, e A Bruxa Teatro, de Évora, estreia no Fórum Luísa Todi, em Setúbal, este sábado pelas 21h00.
A peça tem como base a obra “El ultimo gallinero” publicada em 1970, escrita pelo dramaturgo espanhol, nascido em Badajoz, Manuel Martínez Mediero, considerado dos autores extremenhos mais importantes da história do teatro contemporâneo.
“Achei muito interessante a leitura da obra original. Essa leitura suscitou logo um grande entusiasmo que nos fez avançar para este projeto”, explicou ao Semmais José Maria Dias, responsável pela dramaturgia e encenador do espetáculo.
“A peça é representada num galinheiro, mas é uma alegoria à sociedade das lutas e estratos sociais. Representa muito aquilo que se viveu na ditadura fascista de Franco, em Espanha, altura em que esta obra foi concebida e publicada. É um texto que faz muitas alusões aos jogos de poder, de influência sobre a sociedade e também algumas alusões sobre a guerra, onde verificamos muito esses jogos de poder”, acrescentou.
“O Último Galinheiro”, que conta com cenografia de José Manuel Castanheira e música de João Miguel Mota, apesar da profundidade e do peso da temática, apresenta instantes de boa disposição. “Temos várias cenas com algum humor absurdo e negro. E, pesar de não ser um musical, há também momentos de música”, contou o encenador.
Segundo José Maria Dias, o espetáculo procura ainda provocar a reflexão do público sobre a sociedade atual e a forma como esta encara a democracia e a liberdade. “É uma peça muito importante, porque apesar de ter sido escrita há tanto tempo, continua muito atual. Infelizmente, hoje em dia, a sociedade, na minha opinião, está a reverter alguns dos seus valores mais importantes, como a liberdade e a democracia. Existe um politicamente correto presente, apesar de não haver uma censura estabelecida, mas que provoca uma autocensura”, sublinhou.
Manuel Martínez Mediero marca presença na estreia
Com 86 anos de idade, Manuel Martínez Mediero recebeu com grande satisfação a notícia de que as duas companhias portuguesas queriam trabalhar a sua obra “El ultimo gallinero”. “Ficou muito feliz com este projeto. Pensava que já ninguém se lembrava dele e dos seus trabalhos. Parece que ganhou anos de vida com isto e recebeu muito bem o nosso trabalho e as adaptações que tivemos de fazer”, apontou o encenador, que revela que o autor estará presente na estreia da peça.
“O Último Galinheiro” tem várias sessões marcadas até 16 de abril no Fórum Municipal Luísa Todi, segue depois para Évora e, no dia 10 de maio, apresenta-se no Teatro López de Ayala, em Badajoz, a cidade natal de Manuel Martínez Mediero. “O autor ficou tão entusiasmado que fez contactos em Badajoz e, com muita satisfação, recebemos o convite para apresentar lá o espetáculo nesse dia”, revelou José Maria Dias.
De referir que no passado dia 25 de março, integrado neste projeto, foi lançada na Livraria Culsete, em Setúbal, a publicação da peça em livro, traduzida para português por Pedro Santa María de Abreu.