Para além da liberdade e da democracia, do fim da guerra colonial e das conquistas do poder local, a Revolução de Abril trouxe-nos esperança, novos horizontes e desenvolvimento.
É fácil colocar em causa algumas das conquistas de Abril e praguejar que a Revolução não atingiu a totalidade dos seus objetivos. Embora perceba algum desencanto por parte de algumas fações políticas do nosso espectro partidário, essa perspetiva não deixa de ser falaciosa.
Percebo, no entanto, algumas nuances.
Deixámos de ser um império e livrámo-nos do combate contra os povos que se queriam libertar, mas hoje enfrentamos a guerra da ganância, do poder quase arbitrário da banca e de um certo empresariado que paga mal e lucra muito. Mas a Revolução, a que surgiu após o 25 de novembro de 75, repondo a democracia representativa em Portugal, vingou.
A liberdade de imprensa e a critica política ganhou uma nova escala. Mas lê-se pouco e as redes sociais lograram juntar uma pérfida massa humana de internautas inúteis, fabricando, ao segundo, lixo informativo e ampliando o que se designa atualmente de fake news. São excessos, é verdade, mas antes isso que voltar atrás, ao tempo do medo e das prisões por delito de pensamento.
O país também ganhou eleições livres em plena democracia, mas os portugueses exercem cada vez menos esse direito que a Revolução conquistou, contrariando as farsas da Segunda República, em particular da então designada ‘primavera marcelista’, altura em que nem as eleições nem o direito a votar foram limpas e justas.
Antes de Abril a pobreza e a miséria grassava em grande parte do país, e o acesso à saúde, à educação e à justiça eram privilégios de alguns. Mas não havia contestação. Hoje há tudo isso, embora com falhas e problemas estruturais, e os protesto são muitos.
Naquele tempo era crime dizer mal do Governo, dos governantes e do ‘Status Quo’. Hoje diz-se mal de tudo, de quem nos governa e de quem faz oposição.
São muitas as conquistas de um país que o Estado Novo de Salazar manteve isolado do mundo desenvolvido, traindo as oportunidades dos mais jovens, amputando famílias em nome de uma pretensa defesa da Pátria, e alimentando o povo ao sabor da trilogia “Deus, Pátria e Família”, mas também da pobreza e da ignorância.
Falta mesmo cumprir a Revolução das mentalidades, empreendimento que fortalecerá as nossas capacidades de reivindicar outros destinos e apaziguar a grande guerra da atualidade que é a igualdade de oportunidade e a justiça social.