“O Meu Corpo é o Meu Protesto” no palco de A Gráfica até este sábado

O monólogo, interpretado por Susana Dagaf e Rita Ferraz, é uma espécie de ‘luta’ entre a consciência e o sonho de um mundo mais justo e equilibrado.

Uma trave olímpica é o único elemento de cena. Num cenário minimalista as atrizes Susana Dagaf e Rita Ferraz ‘fundem-se’ numa só personagem para interpretarem a obra da dramaturga espanhola Angélica Liddell, “Lesões Incompatíveis com a Vida” que, adaptada pela encenadora Célia David, sobe assim à cena com o título “O Meu Corpo é o Meu Protesto”.

“O texto original é muito provocatório, nu e cru. É a história de uma mulher que não quer ter filhos e que expõe sem tabus o porquê de não querer ser mãe. Daí o nome que demos à peça. Mas a questão do corpo é um protesto para o que ela acha que devia ser mudado no mundo. A personagem acredita que assim está a contribuir para um mundo melhor”, explica ao nosso jornal Susana Dagaf.

Tendo por base a maternidade e a gestação, durante o desenrolar do espectáculo são abordados temas como as injustiças, as desigualdades, as maldades, o desrespeito pelas opções de cada um ou as guerras inúteis, num “grito de revolta” onde a personagem chega mesmo a afirmar, conta a atriz, que: “O meu corpo é o protesto pelos cadáveres  inocentes”.

“O objetivo cénico é passar a mensagem da corda bamba, porque ao lermos o texto vemos que a personagem luta pelo equilibro dela e do mundo, ou seja, ela vai muito além da questão de não querer ter filhos. No entanto, esta ideia do desequilíbrio não é dela, é um desequilíbrio do mundo”, diz ao nosso jornal Susana Dagaf, referindo-se à opção de utilizarem em cena apenas uma trave olímpica.

Obra foi escrita em 2007 mas permanece atual

Escrita em 2007, a obra agora teatralizada é, segundo a atriz, uma “corajosa e frontal “provocação que “toca numa ferida” (assunto) que, ainda hoje, é uma realidade estigmatizada pela sociedade.

Apesar de se tratar de um monólogo, a representação a duas não desvirtua o texto original, uma vez que, “analisado o lado mais literário, as contracenas foram divididas entre os “discursos diretos e indiretos”. “Chegámos à conclusão que fazia sentido ser assim, porque parecia a consciência uma da outra. Ou seja, uma é mais a do protesto e mais reivindicativa, e a outra mais calma e que concorda ou acrescenta algo ao protesto da outra personagem”, refere.

A interpretação das duas atrizes personifica uma só personagem, mas esta leitura está em aberto, cabendo ao público a conclusão final de um espetáculo que apela, sobretudo, a uma reflexão sobre os valores e a liberdade da existência humana.

“O Meu Corpo é o Meu Protesto” está no palco de A Gráfica – Centro de Criação Artística, em Setúbal, até sábado. Para o início do próximo ano, há planos para uma reposição.