Educação – o circunstancialismo, afinal, conta

O Ministro da Educação foi ao Parlamento prestar contas, a pedido do PSD, sobre as provas de aferição on line e condições para a sua elaboração.

Os resultados do PIRLS (Progress in International Reading Literacy Study-2021), evidenciam uma queda na capacidade de leitura das crianças do 4º. ano, que já se desenhava desde 2016 e confirmou-se em 2021, colocando Portugal em 22º. lugar num conjunto de 43 países. Estes resultados colocam os alunos portugueses 21 pontos abaixo de 2011 e 8 pontos abaixo de 2016;

Continua a aumentar o fosso entre os alunos que têm famílias que os apoiam, que lhes dão todas as condições para poderem desenvolver as suas capacidades de literacia e os que, não tendo esse apoio por parte da família, sobrevivem no sistema. Ou seja, continuam a ficar alunos para trás!!! Veja-se o resultado do estudo apresentado na AR sobre “as desigualdades sociais e a desigualdade escolar nos Municípios de Portugal” que vem afirmar claramente que os alunos com menos recursos têm melhores notas no norte e centro de país, nos municípios que têm maior industrialização. E é em Lisboa e no sul que esses alunos demonstram piores resultados. Continua a haver uma correlação entre o estatuto socioeconómico das famílias e o desempenho escolar dos seus filhos. E o Estado não é capaz de mitigar as assimetrias circunstanciais de cada um, no direito de acesso à Educação.

Em vez de arranjar soluções, e assumir o menos bom, o Ministro da Educação tenta encontrar uma sustentação contrária à evidência dos resultados dos estudos internacionais com anos de aplicação.

Não é paradoxal o Sr. Ministro defender ad nauseam as provas digitais, quase contra tudo e contra todos, vir agora ignorar os resultados do PIRLS digital só porque lhe convém politicamente?

O que vai ficando à vista de todos, perante vários estudos internacionais, é que a teimosia e o experimentalismo levado a cabo pela tutela com o carimbo da geringonça em 2015 é que os alunos portugueses estão a andar para trás quando comparados internacionalmente.

A ministra da educação da Suécia mostrou preocupação com os resultados referindo que “O relatório do PIRLS é um sinal de que temos uma crise de leitura nas escolas suecas. No futuro, o governo quer ver mais livros didáticos e menos tempo de tablets nas escolas”.

O PSD tem criticado a opção política do governo quando em 2016, apoiado na Gerigonça, destruíram o sistema de avaliação externa que existia quando introduziram as provas de aferição no 2º ano 5.º e 8.º anos.

E se a realização das provas de aferição é para avaliar o progresso e o desempenho dos alunos, este ano, ocorreram vários episódios que perturbaram e comprometeram a realização das provas de aferição em diversas escolas: falta de logística adequada; distribuição inadequada de materiais; atrasos incompreensíveis na disponibilização das aplicações a instalar nos dispositivos onde cada aluno iria realizar a prova em formato digital; razões que implicaram alterações no cronograma previamente estabelecido, por exemplo.

Sujeitar alunos e professores a esta trapalhada degrada a confiança no sistema de avaliação externa.

As escolas viveram dias de conflitualidade e é preocupante o mal-estar que se vive no setor da educação.

O PSD não fica indiferente à crescente degradação da condição docente, à desmotivação e à falta de reconhecimento social da profissão. E, para melhorar isto tudo, a receita do ME foi tão só o recurso abusivo à imposição dos serviços mínimos que, conforme recente acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, foi considerado ilegal, tem aumentado o clima de tensão entre os professores e a tutela. É pelo menos a quinta vez que o ME perde no Tribunal.

No meio da tempestade, que condições teremos para iniciar o novo ano letivo?