De volta à Diocese 600 dias depois

No momento em que escrevo este texto, tudo parece indiciar que, finalmente, a Diocese de Setúbal está prestes a voltar a ter Pastor. E todos os rumores vão de encontro a um nome que, nos últimos meses, ganhou dimensão eclesiástica e, mais que isso, visibilidade pública e mediática.

D. Américo Aguiar, timoneiro da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, deverá ser o eleito para conduzir os cristãos da Igreja de Pedro na Diocese, após um inexplicável hiato de quase 600 dias. Ocorre que, neste imenso entretanto, mau grado o trabalho, empenho e devoção do Padre Lobato, tornado administrador diocesano – com a saída abrupta de D. José Ornelas – em janeiro do ano passado, muita água correu sobre as pontes.

Comecemos por alguns nomes que foram varridos da corrida: D. Armando Domingues, que seguiu para os Açores; D. Nuno Bráz, que já apresentou um extenso Plano Pastoral para a Madeira; ou D. Vitorino Pereira Soares, que se fixou com Bispo Auxiliar do Porto. Todos eles cogitados ou pré escolhidos que não passaram nos diversos crivos de uma Igreja que se mantêm sibilina, quase esfíngica.

Nestas nomeações, em que um grupo reduzido aponta escolhas e perfis, obrigado ao ‘segredo pontifício sob pena de excomunhão, pouco é linear. E na engrenagem há também muitas poeiras. Lembremo-nos do movimento de padres da Diocese que se gerou aquando da renúncia de D. Gilberto Canavarro dos Reis, e antes da ordenação de D. José Ornelas como Bispo sadino, clamando a ascensão ao lugar de um conhecido pároco do norte do distrito, hoje ‘exilado’ às portas do país. Uma diplomacia de influência que deixou as suas marcas.

Deste mal padeceu D. Américo Aguiar, tornado Cardeal já com a cabeça no Patriarcado de Lisboa ou num honroso lugar na Cúria Romana. Como confidenciava um padre amigo: “Há ventos que correm que convidam à cautela…”. E neste caso os anticorpos espraiaram-se como sempre.

Interpreto ainda as palavras do mesmo pároco amigo: O que se quer agora é um bispo que chegue humilde, samaritano, com opções e prioridades para os que mais precisam, que esteja na rua sem vestes sumptuosas e sabedorias académicas. Um Bispo que dialogue com todos, crentes ou não, católicos ou não, mas também com movimentos sociais, ecológicos, da juventude, sindicais ou empresariais. Um Bispo que coloque o amor ao próximo no centro e não as pomposas celebrações mitras.

E termino com uma pergunta. O que é feito da Fundação D. Manuel da Silva Martins, criada há quase seis anos, pouco depois da morte do antigo e primeiro prelado sadino?