O Feio”, uma história sobre o culto da beleza e a perda de identidade

A cirurgia plástica que Lette faz catapultam-no para a ribalta, tanto a nível pessoal como profissional. Quando o rosto de transforma num produto de mercado, a vida toma outro rumo.

O culto da beleza física e a perda de identidade são duas das questões centrais do enredo da nova produção da ArteViva – Companhia de Teatro do Barreiro, “O Feio”, que estreou no passado dia 10 e se mantém em cena, no Teatro Municipal do Barreiro.

Entre uma ficção onde a realidade é “exacerbada e excessiva”, tocando o “absurdo e o cómico”, o 92.º trabalho do grupo conta a história de Lette, um homem feio, mas inconsciente. Um dia descobre que a sua desagradável aparência é o motivo pelo qual o seu chefe não permite que ele apresente a sua mais recente invenção num congresso. Ao perceber que a beleza não está nos olhos de quem vê, e depois de a própria mulher evitar olhar para ele, decide submeter-se a uma cirurgia. A decisão traz consequências significativas na sua vida pessoal e profissional, ou seja, as suas competências ficam mais valorizadas e ele torna-se um fenómeno de atração para admiradoras femininas. Mas quando o seu rosto se transforma num produto de mercado, a sua vida toma outro rumo.

Em conversa com o Semmais, a encenadora Carina Silva adiantou que, uma vez mais, o ArteViva traz à cena um texto atual onde se aborda o tema da identidade: “A perda de identidade é a questão central, mas o espetáculo discute, também, a importância atribuída à imagem na sociedade contemporânea, o poder conquistado pelo outro e a indiferença de todos aqueles que se apropriam do novo rosto de Lette, contratando despudoradamente os serviços do mesmo cirurgião plástico”.

Texto aborda grandes obsessões da atualidade

Ao mesmo tempo, “O Feio” aborda uma das grandes obsessões dos nossos dias, nomeadamente “o culto da beleza física”, mas, também, “a violência com que o capitalismo transforma em produto tudo o que seja passível de lucro, como os desejos e medos, sabonetes e políticos, todo o tipo de operações plásticas, de artifícios e implantes, atingindo nesta peça as cirurgias faciais à La Carte”.

Com texto do alemão Marius von Mayenburg e encenação de Carina Silva, este divertido e absurdo espetáculo pode ser visto às sextas-feiras e aos sábados, às 21h30. As interpretações estão a cargo de Ricardo Guerreiro, Rita Reis, Rui Félix e Vítor Nuno. A música tem o selo de Fast Eddie Nelson. Já os figurinos são da autoria de Ana Pimpista e a cenografia é assinada por Carlos Guerreiro, que apostou em caixas de plástico de frutas, de várias cores, para criar o cenário da história.