Além da concretização da candidatura, entregue pela câmara e a Direção Regional de Cultura do Alentejo, as instituições ambicionam também uma conquistar a UNESCO.
O salão da Casa do Alentejo, em Lisboa, foi pequeno para acolher todos aqueles que quiseram presenciar a cerimónia de oficialização, na passada quarta-feira, da candidatura dos registos da canção “Grândola Vila Morena” a Património Nacional, promovida pela câmara de Grândola e a Direção Regional de Cultura do Alentejo.
Interpretada por José Afonso e gravada em outubro de 1971, na Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense, uma das senhas utilizadas no movimento militar que colocou fim ao Estado Novo, tornou-se rapidamente o símbolo, a par dos cravos, daquela Revolução de Abril, recordada por António Figueira Mendes, presidente da câmara de Grândola. “Numa clara manifestação de protesto contra a ditadura, como dizia a primeira estrofe: ‘Grândola Vila Morena, Terra da fraternidade, O povo é quem mais ordena dentro de si oh cidade’, a senha nacional lançou a saída dos quartéis das tropas que iriam devolver a liberdade e a democracia a Portugal, pondo fim a 48 anos de opressão, tirania e desrespeito pelos mais elementares direitos dos cidadãos”, sublinhou o autarca.
O edil grandolense aproveitou a ocasião para deixar elogios à intervenção da Direção Regional de Cultura do Alentejo, na pessoa da diretora Ana Paula Amendoeira, na constituição da referida candidatura. “Tivemos a honra de contar, praticamente desde o primeiro momento, com o apoio da diretora Regional de Cultura do Alentejo, que a partir de uma simples conversa, à qual se juntaram outras entidades como a Sociedade Portuguesa de Autores, decidimos avançar com esta candidatura dos registos fonográficos para património nacional. Algo, acredito eu, único no nosso país”, referiu Figueira Mendes.
“Só tenho a agradecer poder participar neste momento que é para nós um orgulho. Para mim, pessoalmente, é um privilégio. Estamos a falar de documentos e registos, um património móvel tão relevante para a nossa história nacional”, sublinhou, por sua vez, Ana Paula Amendoeira.
Neste âmbito da candidatura a Património Nacional, revelou António Figueira Mendes, há ainda a intenção, por parte da autarquia e da Direção Regional de Cultura do Alentejo em avançar para uma candidatura internacional, procurando assim elevar “Grândola, Vila Morena” a património da UNESCO.
A cerimónia na Casa do Alentejo serviu ainda para apresentar as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, promovidas pela câmara de Grândola.
“Celebrar esta data é um imperativo de todos quantos prezam os valores e ideais que Abril nos outorgou. Ainda mais num município que ficou para sempre ligado à data mais importante da nossa história coletiva contemporânea, sendo hoje reconhecido como um símbolo de resistência contra todas as formas de repressão e de afirmação de um mundo cada vez mais próspero, socialmente justo, inclusivo e fraterno, em que ninguém seja deixado para trás”, afirmou António Figueira Mendes.
O programa, que decorre ao longo de todo o ano de 2024, junta escritores, ilustradores, escultores, artistas plásticos, atores, investigadores, realizadores e músicos, nomes prestigiados da cultura, da ciência e das artes nacionais. Destacam-se, por exemplo, Fernando Tordo, Rodrigo Leão, Paulo de Carvalho, Agir, Ana Bacalhau, Capicua e J.P. Simões, contribuindo ainda para a imagem das celebrações outros artistas como André Carrilho, responsável pelo grafismo do programa, e ainda Vhils, Francisco Simões, José Aurélio, Moisés Preto Paulo e João Duarte, que estão a criar obras de arte em todas as freguesias do concelho grandolense.
Existem outras tantas atividades de áreas tão variadas como a literatura, o cinema, o teatro, a dança e o desporto.