Testemunhas garantem que estavam centenas de pessoas na praia onde avioneta matou neta e avô

Testemunhas da aterragem de emergência que causou a morte de um adulto e uma criança numa praia da Caparica, em 2017, garantiram hoje ao Tribunal de Almada que estavam centenas de pessoas no local onde ocorreu a tragédia.

“Havia muita gente na praia, crianças e adultos. Ter havido [apenas] duas vítimas, naquela situação, foi uma sorte”, disse ao tribunal o médico pediatra Eduardo Ribeiro, que na altura se encontrava na praia de São João da Caparica, onde o piloto instrutor Carlos Conde de Almeida fez a aterragem de emergência que causou a morte de uma menina de oito anos e de um homem de 56.

“Quando a aeronave bate na segunda vítima, a menina de oito anos já estava no solo”, assegurou ao Tribunal de Almada Eduardo Ribeiro, que ainda tentou socorrer a criança, mas rapidamente se apercebeu de que já nada havia a fazer.

Embora os depoimentos não fossem totalmente coincidentes, algumas das sete testemunhas ouvidas hoje de manhã disseram que a aeronave terá atingido a primeira vítima, José Lima, ainda antes de ter tocado no solo, e que só depois da aterragem de emergência, quando já rolava na areia da praia, terá atingido mortalmente a menina, Sofia.

Os pais de Sofia estiveram na audiência, mas, emocionados, escusaram-se a prestar declarações aos jornalistas por estarem a reviver os momentos traumáticos em que perderam a filha, atingida durante a aterragem de emergência de um avião ligeiro de instrução Cessna 152, na praia de São João da Caparica, no concelho de Almada, distrito de Setúbal.

A aeronave em causa saiu do Aeródromo de Cascais (distrito de Lisboa) com destino a Évora, para um voo de instrução em 02 de agosto de 2017, mas após reportar uma falha de motor, cerca de cinco minutos depois da descolagem, aterrou de emergência no areal da praia de São João da Caparica.

Na primeira sessão do julgamento, que teve início em 09 de novembro, o piloto Carlos Conde de Almeida, agora o único arguido no processo, disse que seguiu todos os procedimentos adequados a uma situação de emergência e que tentou várias vezes voltar a ligar o motor da aeronave.

Carlos Conde Almeida disse também que tentou fazer a aterragem de emergência num local mais à frente, com pouca água e onde não havia quase ninguém, mas que não conseguiu lá chegar.

Na instrução do processo, concluída em 21 de maio de 2021, o Tribunal de Almada decidiu levar a julgamento o piloto instrutor responsável pela aterragem de emergência e considerou não haver razão para levar a julgamento todos os outros arguidos no processo, três da Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC) e três da Escola de Aviação Aerocondor (EAA), que estavam todos acusados do crime de atentado à segurança de transporte por ar.

Um ano depois, em 06 de maio de 2022, o Tribunal da Relação de Lisboa negou provimento ao recurso do Ministério Público e manteve a decisão instrutória de levar apenas a julgamento o piloto instrutor Carlos Conde de Almeida, que está acusado de condução perigosa de meio de transporte por ar e de dois crimes de homicídio por negligência.