É o momento em que as famílias e os amigos se voltam a reunir, mas também a ocasião em que desperta o comércio e se desenvolvem atividades culturais e promocionais. Os madeiros ardem durante dias nos largos do concelho.
A festa repete-se todos os anos, mas todos os anos se descobrem novos motivos para celebrar. O Natal, no concelho do Crato, não é apenas uma data religiosa, pese a grande tradição existente. É, também, a oportunidade de reencontrar amigos; o pretexto para festejar nas ruas e um momento de promoção dos valores locais, sejam eles histórico/culturais, gastronómicos ou turísticos.
“Queremos sempre que os naturais do concelho regressem às origens. Queremos que tragam amigos e que lhes mostrem que no interior também há muito para desfrutar. Naturalmente que o Natal é muito importante para o Crato, onde se realizam diversas cerimónias religiosas em todas as freguesias. Esta é uma oportunidade, tal como acontece com o Festival, no verão, de promover tudo o que de melhor aqui se encontra, nomeadamente a gastronomia, as paisagens, o modo de vida”, explica o presidente do município, Joaquim Diogo.
Um exemplo do aproveitamento promocional no Natal foi o lançamento do livro “O Mosteiro de Flor da Rosa, Do Priorado do Crato ao Panteão de Álvaro Gonçalves Pereira”. Trata-se, como disse ao Semmais o responsável pelo Museu Municipal do Crato, Alexandre Santos, de uma obra da autoria dos investigadores, historiadores e diretores do museu, Jorge Rodrigues e Paulo Pereira.
“É o segundo passo de um estudo que já deu azo a um primeiro livro, publicado em 1986. Aqui podem ser conhecidos os estudos desenvolvidos pelos autores, os quais nos dão perspetivas históricas e ajudam a melhor compreender a importância do Mosteiro ao longo dos séculos. É uma maneira de promover culturalmente o concelho”, acrescenta Joaquim Diogo, a propósito da obra que foi apresentada a 8 de dezembro.
“O concelho é rico em monumentos, sejam megalíticos ou outros. É uma mais valia que queremos sempre salientar e que acreditamos que pode ajudar a divulgar tudo o que por aqui se faz. O Mosteiro de Flor da Rosa, pela monumentalidade, pelo simbolismo e por albergar uma pousada, é um dos vários locais que merecem ser visitados. Flor da Rosa, terra de olaria, é uma aldeia com carisma e personalidade (há historiadores que defendem ter sido ali que nasceu o Condestável Nuno Álvares Pereira) e um polo de atração turística, tal como o são o conjunto de antas com cerca de 5.000 anos que existem nos nossos campos ou as inúmeras igrejas setecentistas ricamente decoradas, a arte sacra e os museus. As festividades religiosas no Crato são, de resto, uma imagem de marca. Não foi à toa que aqui se realizaram casamentos reais”, afirma o autarca.
“As iniciativas que desenvolvemos durante o ano são um incentivo para o comércio local. Quantas mais casas estiverem abertas, maiores são as possibilidades de os comerciantes prosperarem e de outras pessoas se sentirem tentadas a conhecer e instalar-se no território”, acrescenta.
Em época natalícia, o destaque vai, no entanto, para as reuniões familiares e de amigos. A queima do madeiro é algo que, nos últimos anos, tem vindo a conquistar mais adeptos. Não é, contudo, uma tradição da região, mas sim uma prática herdada de algumas terras da vizinha Beira Baixa.
No concelho a queima do madeiro iniciou-se na aldeia de Vale do Peso. Hoje é um hábito que começa a ganhar raízes em todas as freguesias, servindo de motivo de convívio entre as populações.
“Há sempre alguém que oferta a madeira, normalmente sapatas de azinheira, sobro, oliveira. O lume acende-se na véspera de Natal e depois mantém-se, noite e dia, até aos Reis”, diz o presidente do município. São dias em que, a qualquer hora, é frequente encontrar gente de volta da fogueira: “Assam-se chouriços, as cacholeiras e todo o tipo de carne. Surgem pessoas com bebida e assim, por vezes durante muitas horas e pela noite dentro, colocam-se em dia as conversas dos que foram trabalhar e morar para longe”.
Antes, em cada casa, há sempre a preocupação de compor a mesa com a doçaria da época e da zona. As aze – vias, as filhós, as argolinhas, os coscorões ou as fitas com calda de laranja são apenas alguns dos acepipes. Nas chaminés das casas mais típicas, pen – durados em varas e ainda a receberem o fumo dos lumes de azinho e oliveira, podem encontrar-se mais de uma dezena de diferentes enchidos. Nas tabernas, enquanto se provam alguns dos vinhos novos, há sempre quem traga um “migalho” de pão e um pedaço de toucinho que uma navalhinha há-de cortar em tiras fininhas para que todos o possam provar.
Mais pela noite, o bacalhau cozido com couves é a presença mais habitual nas mesas. “Na nossa zona não existe muito a tradição do peru. Aqui come-se, sobretudo, bacalhau. Mas também há quem faça, por exemplo, lombo de porco assado, borrego. Estas são, afinal, as carnes tradicionais do concelho. A carne de vaca não era, noutros tempos, acessível a todos”, diz Joaquim Diogo.
O jantar antecede a Missa do Galo, mas, atualmente, a cerimónia já não se realiza em todo o lado pela meia-noite. A necessidade de acorrer a todas as freguesias e o número diminuto de padres ditam a antecipação da celebração.