Família de um dos principais rostos da Revolução de Abril recebeu com agrado a homenagem, destacando o gesto da cidade que foi morada de Zeca Afonso e onde este deu passos firmes na sua luta contra o fascismo, que marcaria toda a sua vida e obra.
Foram muitos, uns mais conhecidos, outros anónimos, que se juntaram no jardim junto à Praia da Saúde, em Setúbal, para a inauguração do Memorial a Zeca Afonso, do artista Ricardo Crista, em cerimónia realizada na tarde de ontem.
“A marca que aqui deixamos é muito mais que uma homenagem de uma cidade que Zeca fez sua, a mesma cidade que deixou perpetuada nas palavras que cantou. É evidência do profundo sentimento de admiração que setubalenses e azeitonenses nutrem pelo poeta que fez da música que cantou, um instrumento de transformação do mundo”, destacou André Martins, presidente da câmara de Setúbal, entidade responsável pela homenagem.
A obra, composta por barras horizontais, com cinco metros e meio de altura, quadro de largura e um e meio de profundidade, pode ser vista de vários pontos, transmite um efeito transparente, vista de determinados ângulos, mas a partir de outros, o retrato de José Afonso, olhando para o horizonte.
“As barras horizontais podem sugerir obstáculos, barreiras ou mesmo um enaltecer em ascensão. Todas as interpretações são válidas pois as leituras dependem da perspetiva de cada um. No entanto, uma leitura comum centra-se num ponto, a imagem de Zeca Afonso. Aqui o Zeca observa a cidade, o horizonte, a esperança, a vida e, acima de tudo, a liberdade”, explicou o artista Ricardo Crista.
A família de Zeca Afonso, representada pelos filhos, Joana e Pedro, recebeu com emoção e agrado esta homenagem da cidade que marcou profundamente a vida do cantor de intervenção, em especial quando este regressou de Moçambique, ainda sob o Império Colonial Português. ““Não foi por acaso que o meu pai escolheu esta cidade. Foi uma decisão baseada na tradição das lutas sociais e populares da cidade”, sublinhou Pedro Afonso. O filho do cantor e compositor apelou ainda para “reflexão numa altura em que os valores que Zeca professava parecem cada vez mais distantes”.
Foi com igual emoção e também nostalgia que aqueles que conviveram largamente com Zeca Afonso e colaboraram ativamente da sua obra assinalaram esta homenagem. “Este memorial é um incentivo para que ocupemos este espaço de uma forma que seja um impulso para que cada um de nós se comprometa a transformar o país numa terra em que cada vez mais valha a pena viver”, afirmou Francisco Fanhais, presidente da Associação José Afonso, à semelhança do apelo de Pedro Afonso.
Além dos muitos populares, participaram na cerimónia membros do executivo municipal, como os vereadores Carla Guerreiro, Carlos Rabaçal, Rita Guerreiro e ainda outros rostos ilustres como o cardeal Américo Aguiar, bispo de Setúbal.