Coordenado por Helena de Sousa Freitas, iniciativa atraiu para a cidade do Sado nomes importantes do muralismo. A organização lamentou, entretanto, a vandalização do mural sobre a causa palestinana, pintado apenas no último domingo.
Os murais pintados em Setúbal e as lutas que estes representavam foram revisitados e estudados, através do projeto “Histórias que as Paredes Contam”, pela investigadora Helena de Sousa Freitas. “A ideia surgiu na esteira da minha tese de doutoramento e ganhou forma pela vontade de restituir a Setúbal algo que considero parte da sua identidade, história e memória: uma revisitação dos murais pintados na cidade e das lutas que os fizeram nascer”, sublinha ao Semmais a investigadora.
A iniciativa ganhou forma e promove várias ações em torno do muralismo, ganhando contornos especiais nos 50 anos do 25 de Abril. “Este é o principal objetivo, para onde convergem intenções, como a de suscitar o debate em torno da prática muralística ou a de animar a cidade com novas obras, enraizadas na atualidade. O momento não podia ser mais propício, dado estarmos a celebrar o cinquentenário do 25 de Abril, data indissociável da grande explosão de murais no país”, explica Helena de Sousa Freitas.
Representativas destas iniciativas são as conversas com especialistas nacionais e estrangeiros . Em Setúbal estiveram já nomes como Mono González (em setembro), artista chileno considerado o mais antigo muralista do mundo e Bill Rolston (na passada terça-feira), Catedrático Emérito da Universidade do Ulster. Das figuras nacionais, destaque para Margarida Mata, diretora artística da revista FOmE, e José Teófilo Duarte, diretor de arte e curador.
A iniciativa contemplou também a pintura de murais e contou com “Painting for Palestine”, ideia lançada por Bill Rolston que levou à representação do desenho “A window to a free country” da artista palestiniana Azhar Al Majed na Avenida Manuel Maria Portela.
Para encerrar o ciclo , Helena de Sousa Freitas revela que está em “preparação um livro sobre o tema” com lançamento agendado para finais de abril e ainda um documentário. Está ainda planeada mais uma exposição fotográfica e a pintura de mais três murais.
Mural sobre a Palestina vandalizado
Já depois da concretização deste texto, o Semmais foi confrontado pela informação de que o mural sobre a causa palestiana, referido acima, pintado no domingo, tinha sido, num curto espaço de tempo, cerca de 30 horas depois, vandalizado, informação confirmada pela organização da “Histórias que as Paredes Contam”.
“Um mural pela paz que foi visado por uma ação de guerra”, sublinhou Helena de Sousa Freitas, em nova enviada ao nosso jornal. “Destruir é fácil, como vemos nos cenários de conflito pelo mundo fora, sendo de lamentar que, quando o país celebra meio século de Democracia, continue a haver quem se mostre tão incapaz de conviver com as diferenças de opinião”, acrescentou a investigadora.
Bill Rolston, que convidou a iniciativa setubalense a juntar-se ao projeto “Painting for Palestine”, também lamentou a vandalização do mural. “O mural falava do anseio desesperado por paz, justiça e liberdade no meio de um horror indescritível, com cerca de 30.000 pessoas mortas em Gaza, 40% das quais crianças. Não compreendo como é que alguém se pode sentir ofendido pela sua mensagem”, destacou o sociólogo catedrático da Universidade do Ulster
Outrora onde se podia ler “Uma Janela para um País Livre”, vive agora a frase “Aqui jaz um mural pela paz”, a nova inscrição decidida pela organização.