A pretexto do processo da Madeira, caso que a PJ nem sequer quis batizar, apesar de ter sido, como parece, a maior operação técnica, judiciária e logística de que há memória, fala-se agora, reiteradamente no segredo de justiça.
É um assunto recorrente, que devia envergonhar, em primeira instância, os agentes judiciais, aqueles que lidam com os procedimentos instrutórios do primeiro ao último instante. E são também os únicos que podem zelar pelo cumprimento da lei e pela lisura destes processos mais mediáticos, com impacto na rotina da ação de investigação e na defesa da integridade dos visados.
Por isso, o desenvolvimento destes casos, todos eles, independentemente da sua origem e das figuras em causa – que são essenciais no combate à corrupção – acabam muitas vezes por desferir golpes profundos no normal andamento da justiça em Portugal e são, em si mesmo, armas de arremesso sobre cidadãos que gozam ou deviam gozar da presunção de inocência.
Mais, muitas vezes acabam por toldar a investigação em fases que são fundamentais para o apuramento da verdade.
É natural que há medida que decorre uma ação judicial desta envergadura o número de pessoas envolvidas seja tão grande que se torna difícil manter o necessário secretismo. Mas todos sabemos, e eu confirmo, que o jornalismo da atualidade vive destes expedientes e destes espetáculos, na luta para captar uma audiência que suga a miséria humana.
Não é, pois, nenhuma anormalidade apanhar-se jornalistas à espreita, de câmara apontada a janelas de salas de audiência, das casas dos suspeitos e em todo o lado que mexa, numa invasão de privacidade que não honra a cartilha desta tão nobre profissão e atividade. Mas nos tempos que correm, se não o fizeram outros farão. É este o preceito, que percorre a comunicação social da mais sensacionalista à de maior referência.
E isto também é a democracia a ser abalroada.
Não sei se este caminho terá alguma inversão. Não creio. Antes pelo contrário, porque tudo indica que vá piorar, quando já se vê emissões de canais de televisão a criarem factos e a procurarem, até à exaustão, imagens que deem canal, independentemente das circunstâncias em redor.