Na manhã em que foi anunciada a morte clínica de Yasser Arafat, uma muito jovem rapariga chamada Cátia foi uma das primeiras cidadãs da Península de Setúbal a ter acesso, dias antes, a dois dos cadernos editados pelo Conselho Português para a Paz e a Cooperação (CPPC), em parceria com a Câmara Municipal de Beja, no quadro da Campanha “Tenho um caderno igual ao teu”.
Em termos práticos, a partir de uma canção de Sérgio Godinho (“São dois braços, são dois braços / servem para dar um abraço / assim como quatro braços / servem para dar dois abraços”), tratou-se de divulgar o máximo de exemplares na base da aquisição de dois pela oferta de um euro, receita destinada à construção de escolas na Palestina, sendo que, de par em par, um dos cadernos foi igualmente destinado às crianças daquela terra martirizada com uma mensagem (a traduzir em árabe) e um desenho, enquanto o outro ficava em mãos portuguesas, preenchendo-se no dia a dia ou nos “trabalhos de casa” de uma qualquer escola até, quiçá, ser guardado como memória futura, tanto individual como colectiva, deste acto enternecedor.
Protagonista empenhada da recomendação de os mostrar a outros “colegas” e professores da Escola Básica nº 2 – Jardim de Infância do Alto do Moinho (Seixal) que frequentava, num ápice de vinte e quatro horas Cátia obtivera como resposta o pedido de mais 270 exemplares (“para já”). E ensinou toda a gente: “Às vezes dou-me a pensar que só não fazemos o que não queremos!…”
Sabemos o que estava em jogo na Palestina e em todo o Médio Oriente, e que a invasão e a ocupação do Iraque, obedecendo a desígnios do imperialismo norte-americano de domínio estratégico económico e militar, encontravam contudo a sua razão maior de ser no exemplo da resistência do povo palestiniano por uma pátria livre, soberana e independente.
Da mesma maneira que um cartaz latino-americano (que não editado em Havana) assegura que “Sem Cuba nada seria igual”, a Intifada, ao fazer-se pagar cara pelos tiros certeiros do exército sionista que atingem cérebros e corações sob as ordens, em primeira mão, de um governo sustentado por um partido filiado na Internacional Socialista, em desrespeito pela Convenção 242 do Conselho de Segurança da ONU – a Intifada coloca na magnitude dos problemas a simples questão do querer. Deslumbra, no sentido épico da palavra, a quantidade de crianças e jovens que perecem na linha da frente, mas é porque ali, como já tivemos ocasião de escrever, não podia ser de outra maneira, quando se confirma a asserção de Marx e de Engels segundo a qual são as massas que fazem a história.
Mas também é aqui que reside a origem do palco da guerra, sem a qual tanques contra pedras seriam um cenário incompreensível: se é verdade que não poucas vezes são ainda as massas e só estas a empunhar a bandeira da legalidade democrática, no sentido progressista da história, resta que, sempre segundo Marx e Engels, a história é movida por um só motor, o motor da luta de classes.