Debates e afins

Honestamente, ninguém sabe o efeito e os resultados objetivos dos debates televisivos que nos entretiveram nas últimas semanas. O formato era bera, os candidatos estiveram sempre condicionados pelo escasso tempo de que dispunham, os moderadores, regra geral, não estiveram à altura, e o modelo foi gizado para a disputa de forma, para os níveis de agressividade e pouco ou nada para a substância.

A montante, tal como referiram os humoristas, a panóplia de comentadores e de jornalistas, muitos deles tendenciosos, trouxeram o pontapé na bola para a disputa eleitoral, com pontuações a preceito e contínuas falácias, muitas vezes contraditórias, sobre os desempenhos programáticos dos contentores.

O último debate, então, que juntou os partidos sem assento parlamentar, foi, em si mesmo, um espetáculo deplorável, poucochinho, num cardápio de disparates e afins, que não enobrecem a política no nosso país, mais comparado aos caricatos política das vias menores no Brasil, a lembrar um “Jacaré de Tanga”, um “Paulo Bosta”, a “Fátima do Churrasquinho”, o “Tatica Negão” e muitos outros desse universo eleitoral tão peculiar

Bem sabemos que estes debates são importantes para que, de uma só vez, as ideias dos diversos candidatos cheguem a um maior número possível de eleitores, mas não parece óbvio que desta vez tenham ajudado os indecisos a criarem as suas convicções para o uso do voto a 10 de março. Sobretudo pela insipiência programática dos debatentes e, mais ainda, pela confusão e ruído gerados pelos comentadores que vestem e despem, num piscar de olhos, a condição isenta e rigorosa nas suas análises.

Mas os debates servem, contudo, para ganhar ou perder fôlego para a segunda fase destes embates eleitorais, nomeadamente as campanhas de rua, no contacto com os eleitores e na proximidade com as realidades concretas. E neste aspeto, também, tem efeitos perniciosos, porque os principais candidatos já veem etiquetados por estar em perda ou em ganho.

Se juntarmos as sondagens, que vão agora intensificar-se, percebem-se os múltiplos efeitos perniciosos sobre o eleitorado mais volátil, mais indeciso e mais retraído. Pode ajudar a agigantar algumas massas eleitorais e intensificar a ‘desistência’ de outras.

Não são ajudas à clarificação, antes pelo contrário.

O que vale mesmo é a confiança que os portugueses já ganharam, de forma suficiente, para a maturidade nas escolhas, porque, na verdade, e felizmente, são estes que decidem o futuro e os próximos desígnios políticos do país.

Vamos confiar na sabedoria do povo, que sabe discernir os valores da estabilidade, das causas, da ponderação das políticas, dos caminhos para atingir resultados, e de combate aos populismos, aventuras e choques.