Os primeiros 25 anos de Abril recuperaram a região de uma miséria confrangedora. Dizia-se na altura que o distrito evoluiu mais nesse período que nos 75 anos anteriores. O advento do poder local teve uma força decisiva.
A madrugada da revolução apanhou a maioria dos concelhos do distrito num profundo estado de miséria fomentada ao longo de 48 anos de Estado Novo. O desemprego, a fome e o medo, grassavam um pouco por todo o lado, acompanhados da falta de água, energia e saneamento básico. Já para não falar dos equipamentos escolares, de saúde e habitação que eram, à época paupérrimos.
E por via disso, o 25 de Abril encontrou o distrito recheado de bairros de lata, onde, para lá se chegar, era preciso atravessar autênticos ‘caminhos de cabra’, uma vez que as vias internas de comunicação eram nesses locais praticamente inexistentes.
Tudo isso mudou, ao longo das décadas a seguir à revolução. E se o ‘25 de Abril’ fez nascer Setúbal, aos olhos de quem assistiu a estas mudanças vertiginosas na qualidade de vida da região, o poder local significa uma das suas maiores conquistas. Na reportagem comemorativa do 25 de Abril de 1999, ao Semmais, Carlos Sousa, então edil da câmara de Palmela e líder da Associação de Municípios do Distrito de Setúbal (assim designada à época) afirmava que “o distrito de Setúbal é dos que melhor pode testemunhar o que Abril nos trouxe”, assumindo o trabalho das autarquias como essencial para “colocar nas mãos da população o direito de escolher livremente os seus representantes que têm contribuído com o melhor do seu esforço para a vida local tenha hoje mais qualidade”. Um das grandes mudanças operou-se na zona rural pobre, que passou para urna agricultura mais próspera, vieram empresas e criaram-se outras atividades que consolidaram um novo tecido empresarial.
Mas o mais importante adveio com um sentido de novas mentalidades, através de uma participação mais ativa dos cidadãos e das comunidades. Na altura a criação de organismos, como os conselhos municipais era trunfo. “Este é o caminho para dar cumprimento a Abril e dar sequência às conquistas dos cidadãos”, confessava na mesma reportagem de 1999, Arnaldo Fernandes; à época presidente da Assembleia Municipal de Alcochete. E acrescentava: “Agora é o povo que detém verdadeiramente o poder”.
Em 1999, os autarcas da região eram unânimes em reconhecer que passados 25 anos da revolução ainda havia muito a fazer, como se veio a verificar, mas décadas seguintes. Era o pensamento de José Manuel Maia, um dos mais reputados parlamentares do PCP e, na altura, presidente da Assembleia Municipal de Almada: “Apesar dos benefícios que a ligação a Lisboa, via ponte nos trouxe, Almada ainda tem carências a todos o níveis” mas, adiantava, “é preciso dar graças à revolução”. E que este concelho ribeirinho pobre e quase sem rede viária, saneamento, escolas ou habitação condigna, que viveu quase sempre subjugado ao poder empregador da Lisnave, foi convertido numa zona de “progresso e sustentado pelos seus cidadãos”, sustentava o político.
E era também reconhecido que a região teve uma evolução meteórica, crescendo mais naqueles vinte cinco anos do que nos 75 anos anteriores.
Retirados do texto de Etelvina Baia da edição de 22 de Abril de 1999