Nadadores salvadores e concessionários reclamam pro­fissionalização

Na Costa da Caparica, que recebe oito milhões de visitantes anualmente, a época balnear obriga à contratação de 120 nadadores salvadores. Mais de metade são brasileiros e argentinos, a quem o ISN reconhece equivalência aos certificados. Em 2023 reprovaram 80 por cento dos candidatos por dificuldades em compreender a língua.

A profissionalização é uma ambição comum dos concessionários e nadadores salvadores que trabalham nas praias do concelho de Almada. Dizem que com equipas de salvamento a tempo inteiro seria possível maximizar os recursos e atrair candidatos sem terem, todos os anos, de andarem a repetir processos de seleção. Anualmente, os cerca de 12 quilómetros de frente de mar acolhem a quase totalidade dos oito milhões de veraneantes anuais que se deslocam à Costa da Caparica. A área vigiada é de cerca de oito quilómetros, mas de apenas quatro meses

“O volume de trabalho nas praias do concelho, que são das mais frequentadas do país, justifica que se crie e regulamente a profissão de nadador salvador. Seria uma oportunidade de ter em permanência os meios de salvamento necessários e, ao mesmo tempo, ter a trabalhar pessoas que, com a atual legislação, são diferentes todos os anos”, diz ao Semmais o presidente da Associação de Nadadores-Salvadores, Resgate e Salvamento Aquático do Atlântico, André Rodrigues, referindo ainda que só no ano passado as equipas terão efetuado entre 400 a 500 operações de salvamento na área. “Este ano, mesmo sem estar aberta a época balnear, já foi necessário intervir algumas dezenas de vezes, lembra.

Esta mesma opinião é partilhada pelo responsável dos Apoios de Praia da Costa da Caparica, Acácio Bernardo. “Em primeiro lugar devia existir um modelo de contrato. A câmara de Almada, a exemplo do que já fazem algumas outras no resto do país, deveria assumir esta responsabilidade de criar equipas de salvamento para todo o ano e de dotar as concessões com todo o equipamento necessário. Naturalmente que os concessionários teriam de se quotizar e pagar ao município um valor a estabelecer. Evitava-se que fossem eles, os concessionários, a terem de andar todos os anos à procura de quem queira trabalhar nesta área e a tratarem da papelada para os nadadores estrangeiros”, afirma.

Maioria dos contratados são estrangeiros

Atualmente, a lei estabelece que cada concessionário tenha a trabalhar três nadadores salvadores (dois em permanência e outro de folga) para uma frente de praia de 150 metros. O facto de em Portugal esta atividade ser sazonal e quase sempre exercida por estudantes obriga ao recrutamento de estrangeiros que, de acordo com Acácio Bernardo, já ultrapassam em número os nacionais.

“Creio que os estrangeiros são mais de metade. A maior parte são brasileiros e argentinos. São os concessionários, quando os contratam, que têm de tratar da respetiva documentação, apresentando-a ao Instituto de Socorros a Náufragos (ISN), a entidade que coordena a atividade a nível administrativo”, refere aquele responsável.

“Os portugueses que se apresentam para esta função são, quase todos, estudantes. Acontece que muitos até têm exames na mesma época em que decorre a época balnear. Nunca se sabe se podemos contar diariamente com eles. Mas sabemos que se os concessionários não cumprirem com o número de contratualizados podem ser autuados pela Polícia Marítima, que é quem fiscaliza”, diz, por sua vez, André Rodrigues.

O mesmo responsável explica que para o caso dos brasileiros o ISN dá a equivalência dos diplomas. Uma vez que os argentinos fazem, quase sempre, os seus cursos no Brasil, o documento que aí lhes é passado acaba por ser igualmente reconhecido em Portugal: “Os estrangeiros concorrem muito às praias portuguesas. No entanto, no ano passado, houve uma taxa de reprovação nos Exames Específicos de Aptidão Técnica efetuados pelo ISN, que rondou os 70 a 80 por cento. Na maioria dos casos os estrangeiros reprovaram por dificuldades na compreensão da língua”. Os cursos ministrados em Portugal, que agora são da responsabilidade das associações, têm uma duração de 150 horas.

O mesmo responsável entende que caso houvesse profissionalização dos nadadores salvadores no concelho de Almada, evitava-se que anualmente existissem as dificuldades de recrutamento. “Partimos do princípio que as praias do município necessitam, durante o verão, de cerca de 120 salvadores. Tendo em conta que nos restantes oito meses também há muito trabalho que justifica a sua presença, então seria ideal ter uma equipa de, pelo menos, 50 que pudesse trabalhar nesse período. Quando abrisse a época balnear só já ficariam a faltar 60 ou 70”, refere.

“A autarquia até desenvolve um bom trabalho, fazendo análises regulares à areia e à água das praias, que são das melhores do país. Também temos de enaltecer o facto de, mesmo nos oito meses fora da época balnear, existir sempre uma viatura camarária com dois tripulantes que corre toda a frente de praia, mas isso não chega”, afirma Acácio Bernardo.

 

1.300 euros de ordenado

Atualmente um nadador/salvador aufere, na generalidade das praias do distrito de Setúbal, um vencimento mensal que vai dos 1.200 aos 1.300 euros mensais. Têm ainda direito a almoço e lanche e, em alguns casos, até lhes é oferecida dormida. “É um trabalho que acaba por ser bem pago. O que notamos é que se ganha mais nas praias interiores, onde a oferta é menor”, diz André Rodrigues. No que se refere às despesas dos concessionários em material de salvamento, Acácio Bernardo afirma que a mesma ronda, por ano, os 2.500 euros. “É evidente que não é necessário estar todos os anos a comprar o mesmo material, mas a verdade é que mesmo não sendo utilizado, a Polícia Marítima pode autuar caso o mesmo não exista”, diz André Rodrigues, que defende a existência de torres de vigia em todas as praias do concelho, explica que muitos concessionários são obrigados a comprar equipamentos que, devido à configuração dos espaços concessionados, nem sequer podem ser utilizados”.