Saramago inspira “Lucidez”

“Lucidez”, da Companhia de Dança Contemporânea de Évora, vai estar em cena esta sexta-feira, pelas 21h30, no Auditório do Fórum Cultural do Seixal, num espetáculo que se associa às comemorações do Dia Mundial da Dança e dos 50 anos do 25 de Abril neste concelho.

Com coreografia de Nélia Pinheiro, a criação inspira-se e explora o livro de José Saramago, “Ensaio Sobre a Lucidez”,, depois da companhia, já ter trabalhado uma outra obra do Prémio Nobel, nomeadamente “Ensaio Sobre a Cegueira”. “O objetivo central, tanto numa peça como noutra, passa pela conexão, a forma como o ser humano toma decisões, sejam políticas ou pessoais. Ou seja, como faz o seu caminho e como essas escolhas acontecem”, conta a artista em conversa com o nosso jornal.

A linguagem e o estilo da obra de Saramago exerce grande influência no trabalho de Nélia Pinheiro, representado nesta criação. “Tenho muita preocupação em trabalhar essa conexão e a ligação entre os seres humanos e também a comunicação. E a obra tem esses elementos, é muito descritiva e comunicativa, sempre impatante e extremamente intelectual. Quis aprofundar o que nos leva a tomar decisões, sejam mais acertadas ou erradas, e perceber o que é isto da nossa essência. Nesta peça procuro encontrar essa lucidez”, acrescenta.

Neste contexto, o trabalho exigente pedido aos bailarinos, vai no sentido de uma coreografia que procura representar na perfeição essa “conexão” e “profundidade filosófica”.. “A conexão é o pensamento chave desta criação. Há um tempo certo, através de uma respiração, de um despojamento de imagens, na procura de movimentos da naturalidade, da conexão com os outros corpos, mas num momento também genuíno”, destaca.

Aproveitando o trabalho já realizado anteriormente e obedecendo à inspiração em Saramago, há uma linha e um estilo de apresentação que não foi abandonado. “Procuro sempre que as minhas peças sejam uma evolução. É uma ambição minha enquanto criadora, da minha própria linguagem, que nas minhas peças, apesar de serem distintas de conceito e de dramaturgia, a essência da linguagem criativa e expressiva tenham um fio condutor.”, sublinha Nélia Pinheiro.

A criação, que tem música de Gonçalo Almeida Andrade e figurinos de José António Tenente, procura, essa “vibração” e um ainda “despojamento cénico”. “Só temos em cena 12 cordas de sisal perduradas, que criam uma floresta em palco e, depois, quatro cordas esticadas na horizontal. O espaço está praticamente vazio e o objetivo é preencher com o movimento e conexão dos corpos e a vibração dessas cordas. Depois temos uma imagem muito depurada, com tons pastéis e uma luz que vai criando sombras e ampliando os corpos, criando novas dimensões”, destaca a coreografa.