Escolha do Governo implica a construção de uma ponte ferroviária e rodoviária entre Chelas e o Barreiro. Quando o “Luís de Camões” estiver concluído será desmantelado o “Humberto Delgado”. Escolha da margem Sul é vista como uma vitória para a península de Setúbal.
Passados 52 anos ficou, esta semana, a saber-se que o novo aeroporto da capital irá ser construído no Campo de Tiro dito de Alcochete mas que, em boa verdade, fica maioritariamente localizado nos concelhos de Benavente (Santarém) e Montijo (Setúbal). Com esta decisão, a margem Sul, como tanto foi defendido pelos autarcas da região, irá ter, lá para 2034, uma infraestrutura de grande dimensão, que há de conduzir ao desmantelamento do “Humberto Delgado”, em Lisboa, que irá criar milhares postos de trabalho, desenvolver atividades industriais, fomentar a habitação e o turismo, criar novas acessibilidades, sendo a mais sonante de todas uma nova ponte sobre o Tejo, que vai ligar o lisboeta bairro de Chelas à cidade do Barreiro, possibilitando a passagem do comboio de alta velocidade.
O novo aeroporto, cuja construção, há cerca de três anos, havia sido calculada em mais de seis mil milhões de euros, já encareceu, pelo menos, mais dois mil milhões, foi anunciada esta terça-feira pelo primeiro ministro, Luís Montenegro, e também pelo ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, como a obra que o país já não pode adiar por mais tempo, “sob pena de acumular prejuízos ainda bem mais elevados” do que os dois mil milhões de euros que se presume terem deixado de ser embolsados devido à incapacidade de receber o desejado número de turistas.
Após a construção do “Luís de Camões”, assim designado pelo Governo, chega ao fim o ciclo de vida do “Humberto Delgado”. Mas esse é um desfecho que ainda vem distante, pelo que até lá a Portela vai sofrer diversas beneficiações, que vão permitir passar dos atuais 32 voos por hora para, pelo menos, 40. Enquanto funcionar, o aeroporto de Lisboa irá ainda absorver a área militar contigua (o Aeródromo de Transporte número 1, vulgo Figo Maduro) e assim poder aumentar o número de passageiros.
Com a decisão agora anunciada pelo Governo acaba também a novela Montijo (BA 6), que durante muitos anos foi considerada a hipótese mais viável, mas também a mais contestada, sobretudo pelas associações ambientais, comissões de moradores e também por câmaras municipais da margem Sul dirigidas por eleitos da CDU. Paulo Silva, que preside no município do Seixal, já se pronunciou sobre a escolha do Campo de Tiro, dizendo que essa foi sempre a escolha do seu município.
Uma plataforma de nove associações ambientais também já reagiu à escolha do Campo de Tiro, considerando-a, no que a sustentabilidade diz respeito, como “uma solução problemática”, sobretudo porque pode ter consequências para a preservação de inúmeras aves que ali nidificam. Esta é, de resto, uma posição semelhante à que sempre tomaram relativamente à BA6. Para os ambientalistas a escolha ideal seria Vendas Novas, mesmo tendo em conta os custos de construção mais elevados e a maior distância relativamente a Lisboa.
Autarca socialistas não se sentem derrotados
A escolha do Montijo para se tornar no aeroporto complementar a Lisboa foi sempre defendida pela maioria dos autarcas socialistas da península de Setúbal. Com o anúncio da escolha do Campo de Tiro não entendem, no entanto, que tenha existido qualquer derrota política.
Esta semana, ainda antes de ter sido revelada a escolha, o presidente da câmara do Montijo, Nuno Canta, afirmava que “o mais importante é que a obra se faça na margem Sul”. Ao Semmais o autarca salientou sempre que “do ponto de vista temporal e económico a melhor solução será sempre a BA6 (que tem uma pista construída, ao invés do Campo de Tiro, onde não existe nenhuma e terão de ser construídas duas). Canta esperou sempre por uma decisão dual (dois aeroportos a complementarem-se), hipótese que agora foi liminarmente descartada pelo primeiro ministro.
Igualmente defensora do projeto no Montijo, a presidente da câmara de Almada, Inês Medeiros, disse ao nosso jornal que “o município posicionou-se favoravelmente ao projeto do novo aeroporto no Montijo na medida em que este poderia representar um contributo relevante para o desenvolvimento económico da AML, com impactes positivos particularmente relevantes para a península”.
Outro socialista, o presidente da Moita, Carlos Albino, acabou por revelar que “a localização do futuro aeroporto não deverá ser baseada em preferências, mas sim em necessidades e naquilo que melhor serve as populações”. Ainda antes de conhecer a decisão final, o autarca dizia ao nosso jornal que “em qualquer das localizações, seja no Montijo ou em Alcochete, deverão ser tidas em conta as acessibilidades para que o novo aeroporto possa servir todos”.
Autarca de Alcochete acertou em tudo
Ainda antes de ser conhecida a nova localização do aeroporto, o Semmais colocou três questões ao presidente da câmara de Alcochete, Fernando Pinto. As suas respostas acabam por ser coincidentes com os argumentos apresentados para justificar a escolha do Campo de Tiro.
Como autarca qual a localização que prefere: Campo de Tiro de Alcochete ou BA6?
Como sempre afirmei, prefiro que um investimento desta natureza tenha características de futuro e por isso sempre manifestei a minha orientação para a construção de uma nova cidade aeroportuária em detrimento de uma mera solução complementar.
Quais as principais razões para a sua escolha?
As razões da minha escolha incidem numa visão macro, projetando este investimento no futuro, consolidando aquilo que entendo serem pressupostos inegociáveis, ou seja, o cumprimento escrupuloso das garantias ambientais e a preservação da segurança de pessoas e bens.
A construção do aeroporto num destes locais implica que tipo de trabalhos (construções) para o município a que preside?
A construção de uma cidade aeroportuária pressupõe a garantia de múltiplas acessibilidades, a construção de uma nova travessia sobre o Tejo, a extensão do metro de superfície até Alcochete e a implementação da ferrovia de alta velocidade. Depois temos de garantir as condições de saúde e segurança, com a implementação de novas soluções de infraestruturas que assegurem estes princípios básicos, entre outros projetos que consolidem Alcochete como um território único e apetecível.
AMRS diz que Alcochete é a melhor decisão
O presidente da Associação de Municípios da Região de Setúbal (AMRS), André Martins, congratulou-se com a decisão de construir o aeroporto no campo de Tiro de Alcochete, lembrando que esta pretensão tinha por parte de muito autarcas cerca de 30 anos e que representa “a decisão mais correta do ponto de vista ambiental e do desenvolvimento regional e do país”. “É uma possibilidade de investimento público que promove o desenvolvimento e constitui um incentivo importante para a região”, acrescentou lembrando, no entanto, que se “mantém a necessidade de construção da terceira travessia do Tejo, de uma plataforma logística, de ligações aos portos de Setúbal, Lisboa e Sines e de ligação a Espanha”.
Também o presidente da Câmara do Seixal, Paulo Silva, disse ao nosso jornal que a escolha do Campo de Tiro de Alcochete corresponde à “melhor localização ambiental e económica”, porque “melhora as acessibilidades e permite pensar na expansão futura”. O autarca lembrou ainda que a decisão de construir fora do Montijo “prova que o município do Seixal tinha razão quando se opôs à obra na Base Aérea 6 e que nunca foi uma força de bloqueio para a região, mas antes um defensor da boa gestão dos dinheiros públicos”.