A gestão do bom-sendo contra o agigantar dos ódios

Os tumultos ocorridos em alguns dos bairros problemáticos da grande Lisboa, detonados pela morte de um local às mãos de um jovem policia, abriu a caça pública entre fações, racistas e anti-racistas, xenófobos, extremistas de direita e de esquerda, num caldo de loucura geral, que em nada concorrem para a discussão séria sobre o(s) tema(s) em apreço.

A planar sobre os comentaristas profissionais, muitos deles agarrados a dogmas, e os políticos lança-chamas deste país, o mundo selvático da Internet tem ajudado à festa dos horrores, gerando pânicos, acicatando frentes de combate, agigantando até aos mais moderados que, fora deste jogo sujo, são quase obrigados a quedar-se para um dos lados, sob pena de serem eles mesmos os ignorantes deste circo.

Mas a realidade, que é verdadeiramente preocupante, necessita de algum bom senso e de vozes que consigam descortinar, sem ajuntamentos, as razões para este caldo de culturas e da violência gratuita que parece grassar mesmo ao pé das nossas portas.

E em primeiro lugar é preciso ter a coragem de assumir que, nos último anos, com a ‘invasão’ de imigantes de diversas origens – o que levou a mudanças no perfil demográfico urbano – ganhou-se e amplificou-se a perceção de um país menos seguro e, em situações extremas, mais perigoso em termos de criminalidade. Essa condição tornou a nossa polícia mais exposta e também mais racista ou xenófoba.

Do mesmo modo, o engrossar das fileiras da imigração socialmente fragilizada, levou ao adensar de gangues e de outros grupos que cometem crimes violentos, e que, em muitos casos, visam, na sua ‘luta’ comunitária, as forças policiais.

Há de tudo e ambas as situações ocorrem e não devem ser escamoteadas.

Só assumindo a verdade destas duas frentes, é possível descortinar soluções que minimizem os efeitos nefastos deste confronto, que não começou com a morte aparentemente negligente de Odair Moniz, numa ruela da Cova da Moura.

Ao invés de acicatar os dois lados, é urgente encontrar pontes de diálogo para pacificar esta ordem, que promete galopar.

Outra coisa é obrigar as forças de segurança a cumprirem a proporcionalidade e justificada da força, bem como ter tolerância zero e mão pesada para os delinquentes que se aproveitam do infortúnio alheio para lançar o caos.

Se nada for feito, se não surgirem mediadores capazes de agiram com urbanidade, a escalada está à vista, mesmo que haja, a tempo, períodos de maior acalmia.

Afinal, já todos devíamos saber que a violência gera violência e o ódio gera ódio.