“Branco toca Marco Paulo” na Casa da Música Jorge Peixinho

O guitarrista, vindo do mundo do improviso do jazz, deu os primeiros passos no universo de Marco Paulo durante a pandemia, depois de escutar o álbum “Ver e Amar”.

“Branco toca Marco Paulo” é o mais recente trabalho do guitarrista Pedro Branco que, esta noite pelas 21h30, leva à Casa da Música Jorge Peixinho, no Montijo, um espetáculo inspirado no cantor falecido recentemente. Este projeto surge depois de ter lançado o primeiro disco a solo, intitulado “A Narrativa épica do Quotidiano”, e resulta de um contacto que o artista teve com o álbum de Marco Paulo “Ver e Amar”, lançado no início dos anos 70.

Tanto este projeto, como o que resultou no meu primeiro disco, surgiram durante a pandemia. Toda a gente sabe como foi difícil essa altura e que nós, músicos, não podíamos dar concertos nem tocar juntos e, por isso, tínhamos muito tempo livre. Nesse período, em conversa com o Tiago Bettencourt ele mostrou-se esse disco do Marco. Andámos a ouvir as músicas e adorei. Foi nesse momento de escuta que comecei a pegar na guitarra e a sacar de alguns acordes”, conta ao Semmais Pedro Branco.

Com a escuta como ponto de partida, o guitarrista começou a abrir caminhos para dar uma nova sonoridade às músicas do cantor portuguêrs. “Achei que seria giro pegar naquele universo, dar uma roupagem mais próxima à que toco e aproveitar para fazer algo que nunca tinha feito, que é o trio de jazz. Toco música improvisada e jazz há muitos anos, mas o trio, com guitarra, contrabaixo e bateria nunca, decidi fazer em nome próprio, tal como desejava há muito tempo”, explica o artista.

Celebrar o legado do cantor português

Caracterizado como música mais ligeira, romântica e até mesmo, por alguns, mais popular, o reportório de Marco Paulo no álbum “Ver e Amar”, surpreendeu Pedro Branco. “Há muitas coisas em comum com o reportório jazzístico, até em questões de harmonias e melodias. Fiquei impressionado com a qualidade dos arranjos e como a palete tímbrica está organizada, através do uso de sopros, da utilização rítmica mais livre, um groove mais ligado ao jazz, uns twists não tão esperados na música romântica”, destaca o guitarrista.

O recente falecimento de Marco Paulo impactou Pedro Branco e os integrantes deste projeto, levando, inclusivamente, a uma reflexão sobre o futuro. “Apesar de não ter ouvido desde miúdo a sua música, naturalmente que o conhecíamos dado que nos últimos anos temos trabalhado este seu reportório. Ficámos impactados e chocados com a notícia da sua morte. Apesar de ser um projeto já com três anos, ainda pensei, junto da editora, como é que iríamos fazer as coisas daqui para a frente, porque uma coisa era fazermos isto com o Marco Paulo vivo, outra é sem ele estar cá. Mas, acho que as pessoas percebem que respeitamos o seu legado e isto acaba por celebrar a sua obra musical”, sublinha.