Teatro Estúdio Fontenova estreia “Qual Estado Nação?”

Peça encenada por José Maria Dias, com texto original de Luísa Monteiro, coloca em palco um debate sobre temas centrais da atualidade, como a liberdade e a democracia. Obra recupera ainda o ambiente do Albergue da Mitra, durante o Estado Novo.

“Qual Estado Nação?” , uma produção do Teatro Estúdio Fontenova, estreia no Fórum Luísa Todi, em Setúbal, esta noite e mantém-se em cena até ao dia 24. A peça, interpretada por Graziela Dias, Patrícia Pereira Paixão e Sara Túbio Costa, resulta de um texto original escrito por Luísa Monteiro que trata de temas sensíveis da atualidade, como os direitos individuais, e apresenta ainda olhares sobre o estado da democracia.

“Começámos por desafiar a Luísa para um espetáculo que se relacionasse com estes tempos sombrios que estão a acontecer com mais veemência. Ela depois devolveu (a resposta) com um outro desafio. Em vez de tratarmos uma peça “panfletária”, acabou por apresentar um texto dramático, trágico de certa forma, que se passa no ambiente de uma família burguesa que tem influências do Estado Novo. Isto faz com que se abordem questões atuais como o ressurgimento da extrema direita, do racismo, da xenofobia e do papel da mulher na sociedade e os seus direitos. Tudo discussões que julgávamos que estavam afastadas do nosso horizonte, mas que não estão e, por isso, é preciso alertar as pessoas”, começa por explicar José Maria Dias, encenador da peça, em conversa com o nosso jornal.

É através desta família que a narrativa da peça teatral se desenrola, representando, muito mais que um confronto de gerações, uma autêntica luta de pensamentos. “O espetáculo retrata uma família, uma mãe com duas filhas. A mãe tem a ideologia e o pensamento do Estado Novo, mas uma das filhas, entretanto, evolui. A situação provoca um confronto de ideologias e de temáticas entre esses elementos. É o que posso revelar”, sublinha o dramaturgo.

Espetáculo recupera ambiente do Albergue da Mitra

José Maria Dias revelou ainda que o trabalho recupera a figura que o Albergue de Mendicidade de Lisboa, também conhecido como Albergue da Mitra, desempenhava no Estado Novo. “Este sítio servia para colocar as pessoas indesejáveis, para que o regime mostrasse que havia uma sociedade limpa. A polícia andava na rua à caça de mendigos, prostitutas e doentes mentais. Depois também começaram a ser colocados lá presos políticos e perseguidos do regime. Esta alusão serve para que as pessoas se lembrem do que aconteceu e de como as coisas podem voltar a caminhar para aí”, refere o encenador.

O espetáculo, que conta com música original de João M. Mota e interpretação de A Garota Não na canção final, tem ainda a particularidade de colocar o público em cena. “Hoje há muito esta coisa do conceito imersivo, quando o Fontenova já faz isso desde o início. Como somos um teatro estúdio, as peças que fazemos exigem essa proximidade com o público, até porque em Setúbal só temos salas grandes e a forma como decidimos representar é colocar as pessoas no palco, junto à cena”, revela José Maria Dias