A caminho dos dez anos

A 6 de janeiro de 2025, a Mascarenhas-Martins vai comemorar dez anos.

Estamos neste momento a preparar um conjunto de propostas para, ao longo do próximo ano, em paralelo com a nossa programação regular, apresentarmos algumas iniciativas especificamente relacionadas com esta conquista.

Chamo-lhe conquista porque não é nada fácil conseguir que um projecto desta natureza sobreviva às circunstâncias, sobretudo quando os primeiros anos são quase sempre possíveis por investimentos pessoais, generosidade de quem se envolve, apoio familiar.

É preciso começar por provar que se consegue fazer alguma coisa, o que demora tempo suficiente para que muitos projectos fiquem pelo caminho. Felizmente, não foi esse o caso da Mascarenhas-Martins.

Sempre houve muita gente a dizer que era um projecto que fazia sentido, mesmo que depois não acompanhassem o trabalho realizado. Não tenho dúvidas que esse terá sido um dos factores determinantes, essa sensação que o trabalho que conseguimos desenvolver aqui no concelho do Montijo, que não estava a ser feito por ninguém, fazia falta, era necessário.

Para nós, não havia dúvidas, era este o tipo de trabalho que tínhamos vindo a idealizar, a Maria Mascarenhas e eu, desde que nos conhecemos na Escola Superior de Teatro e Cinema, uma vontade de intervenção que só se concretizou com a nossa vinda para esta cidade.

Esse feliz acaso de termos vindo aqui ter é semelhante, aliás, ao acaso que fez com que nos conhecêssemos no último semestre do último ano dos nossos cursos.

Acredito em coincidências: andamos todos meio à deriva e, de vez em quando, temos a sorte de encontrar alguém, ou de avistar terra. O que mais importa é o que fazemos com esses encontros, o nosso sentido de oportunidade.

Ando aqui imerso nestes quase dez anos porque decidimos que seria importante preservar a memória e partilhá-la. É um facto que não passou assim tanto tempo desde que começámos, mas temos consciência de que, por exemplo, quem começou a acompanhar o trabalho que fazemos na Casa da Música Jorge Peixinho nem sempre sabe o que fizemos antes. Mesmo o momento de fundação da Mascarenhas-Martins tem antecedentes, uma pré-história. E essa pré-história parte de um contexto, um chão, que gosto de pensar que começou a ser cultivado ainda durante o Estado Novo, por todas as pessoas que decidiram, apesar das circunstâncias, ir tentando alargar aos poucos os limites da liberdade artística e da liberdade de expressão.

A possibilidade de termos hoje políticas culturais públicas que possibilitam a existência de estruturas como a Mascarenhas-Martins deve-se muito a quem, com grande esforço, cuidou dessa sementeira e, depois da Revolução, acompanhou o seu florescimento, tentando afastar as ervas daninhas. É importante pensarmos nestes antecedentes para termos consciência de como estas conquistas são frágeis e precisam de cuidado permanente.

Em 2025, queremos convidar-vos a estar connosco neste cruzamento entre passado, presente e futuro; entre o que nos formou, o que somos hoje e o que ainda ambicionamos ser.

Levi Martins – diretor companhia Mascarenhas-Martins