Com o afastamento da América de Donald Trump da nossa Europa, e com a necessidade de rearmamento como fator estratégico da segurança europeia, os países da União vão ter que ultrapassar impasses e as divergências geopolíticas que atrasam decisões em conjunto e que nos empurram quase para uma indiferença face aos grandes atores da cena mundial.
Tenho manifestado muitos receios sobre esta corrente – que parece não ter medida nem arrepio – que vai obrigar o mundo ocidental, integrado na Aliança Atlântica, a aumentar desmesuradamente a percentagem do PIB para adquirir armamento e afins, deixando para trás as conquistas sociais e a proteção dos mais vulneráveis. Mas é isso que vai acontecer, no que podemos chamar de retrocesso civilizacional.
Trump já iniciou a sua agenda de negociatas com os russos de Putin e com Zelenski, já para não falar de outros tantos. Com o primeiro, oferecendo parte dos escombros dos atuais conflitos à escala global e reposicionamentos, que envolvem sempre ganância; com o segundo, ‘sacando’ parte das tais terras raras, com bónus bilionários para si e para os Musks desta vida. Mas talvez acabe com a guerra da Ucrânia, obrigando à entrega do território dilacerado pelos russos e oferecendo alguma segurança futura para o que resta. E a Europa assiste, porque mais não pode fazer.
No entanto, há possibilidades e, diria mesmo, urgência, em fazer alguma coisa.
A primeira, seria substituir a força dos americanos no espaço europeu, retirando-lhe essa força Atlântica. Pelo que se ouve, serão cem mil homens, num contingente militar europeu que vale 1,5 milhões de efetivos. Depois, desenvolvendo uma mega operação de reindustrialização militar, empreendendo um PRR dedicado, que não afetasse as políticas sociais, antes pelo contrário. E, sobretudo, apostando forte na inovação do setor do armamento e nos serviços e agências de segurança.
A par disso, seria necessário resgatar o Reino Unido de volta à União Europeia e acelerar a entrada da Ucrânia no mesmo espaço, tornando a Europa mais forte e mais unida, nem que para isso se volte, de novo, a debater a ideia da federalização.
Só assim, julgo eu, poderíamos fazer frente aos senhores da guerra, com as armas que estes conhecem, combater a ganância que arrasta o mundo para um beco sem saída, e voltar às lutas pelo desenvolvimento e progresso humanista, à crise migrante, e às emergências do combate à pobreza e às alterações climáticas.
É possível? Estou longe de o saber, mas como está este mundo e para o que aí vem, será sempre uma das vias pelo menos a ter em conta.


