A leveza das escolhas menores

Sou do tempo em que a escolha de um candidato à presidência de Câmara não era nada fácil. Em qualquer partido politico. O perfil, o caráter, o reconhecimento e, sobretudo, a competência e o conhecimento da coisa pública eram atributos essenciais.

Hoje, porém, o paradigma mudou de forma drástica, não havendo, à partida, nenhuma destas exigências. Mesmo considerando, com honrosas exceções, os chamados partidos tradicionais.

Com este ponto de partida não quero dizer que as candidaturas de hoje, as que estão no terreno, não tão legítimas como as demais, nem que há homens e mulheres que, não tendo experiência notória, não a possam adquirir, como já sucedeu em muitas outras eleiçoes. Mas há sempre um atributo a valorizar.

Neste caso, refiro-me, em especial, aos candidatos ´à la minute´, que invadem hoje o universo eleitoral das autárquicas e que, na corrente da atual cena política, aprestam-se a tomar lugar nas nossas câmaras, assembleias e juntas. Chega a ser confrangedor ouvi-los, saber das suas narrativas e sentir o pulsar das suas ideias, formas de estar e de ser. É muito mau.

Mas é com este exército de gente impreparada que o eleitorado vai ter de se confrontar. Mesmo que se não se perceba muito bem como irão ser geridos os destinos dos nossos municípios.

Quando o grau de exigência é quase zero, o afastamento de personalidades capazes e com provas dadas atinge limites jamais vistos e o cardápio das competências é tão escasso, corremos mesmo o risco de deitar a perder muito do trabalho que um largo número de autarcas produziu nestes mais de 50 anos de poder local democrático.

E pelo que se vê por aí, nestas eleiçoes de outubro vai estar muita coisa em jogo, mas já se pode antever que muitas das nossas autarquias vão ficar ingovernáveis, geridas à bolina, deixando as populações quase entregues à sua sorte.