Confronto entre o individual e o coletivo em “Dançar o Verão em 3 Actos”

foto: Luana Santos

Maria Mascarenhas conclui a quadrilogia iniciada em 2023, levando novamente a palco pensamentos e inquietações. Dramaturgia é representada por André Alves, Arlindo António, Inês de Matos, João Jacinto, Luís Madureira e Nídia Santos.

“Dançar o Verão em 3 Actos” é o nome do mais recente trabalho da Companhia Mascarenhas-Martins que estreia na próxima sexta-feira, dia 26, na Casa da Música Jorge Peixinho, no Montijo, onde permanece até 12 de outubro.

O espetáculo conclui a quadrilogia lançada em 2023 por Maria Mascarenhas, que já levou a palco “Rebentar na Primavera em 3 Actos”, “Cair no Outono em 3 Actos” e “Teimar no Inverno em 3 Actos”. As peças, cada uma à sua maneira, procuram sobretudo ser pontos de partida para reflexões sobre inquietações da dramaturga. “Se na primavera era um momento de desabrochar, de tentar experimentar coisas diferentes e de pensar de outra maneira, o inverno e o outono acabaram por ser muito mais introspetivos, inquietações muito mais escuras e sombrias. Coisas que se calhar não me apetecia muito pensar, mas inevitavelmente tinha de o fazer. No verão senti que tinha de voltar a essa ideia, não do rebentar da primavera, mas do que é que aconteceria depois dessa possibilidade. É nesse sentido que surge a reflexão sobre a relação do individuo e do coletivo, do que é individual e de que forma nos orientamos em conjunto”, conta ao Semmais Maria Mascarenhas.

É através dos atores André Alves, Arlindo António, Inês de Matos, João Jacinto, Luís Madureira e Nídia Santos que o público entra neste universo, recriado num cenário onde sobressai um campo de girassóis amarelos e as cores do simples guarda roupa das personagens. “O João, que é o protagonista e que foi acompanhando as outras situações, agora é colocado numa outra situação logo no início do espetáculo e é obrigado a adaptar-se, a tomar uma decisão imediata, muito instintiva. A partir desse momento revolta-se na sua relação com a voz-off, que são comandos meus. Depois as outras personagens quase que dialogam para tentarem perceber o que é que estão ali a fazer também”, sublinha a encenadora.

Neste espaço de reflexão e questionamentos, a pressão e a aceitação da tomada de uma decisão vai também ao encontro daquilo que são as inquietações da autora. “Uma das coisas mais difíceis para mim é mudar. A voz-off é também a consciência, a minha cabeça que diz que agora vais ter de mudar, que brotaste, as circunstâncias são diferentes e agora tens de te adaptar e mudar isto tudo. A personagem do João reflete um bocadinho nho esse lado mais racional do pensamento”, explica Maria Mascarenhas.

Para a dramaturga, o espetáculo também pode servir como ponto de partida para uma reflexão sobre como a sociedade hoje em dia lida com a ficção. “A sociedade está um pouco quadrada, tem dificuldade em imaginar coisas, em lidar com a criatividade. Estamos muito agarrados ao que é real ou não, à dureza dos números e que só há A ou B, não existem mais letras no abecedário. Gostava que o espetáculo quebrasse um bocado esses limites, na medida em que a certa altura não sabemos bem o que é real ou ficção”, diz.