EDP coloca de lado hipótese de reabrir central a carvão de Sines

As ações de formação apenas ajudaram um número restrito de antigos operários. Alguns têm esperança na futura produção de hidrogénio verde, mas ninguém sabe quando a mesma começa nem quantos postos de trabalho vai gerar.

A reabertura da Central Termoelétrica de São Torpes, no concelho de Sines, é uma hipótese que a EDP não coloca para suprir eventuais falhas na produção de energia elétrica para o país. Essa possibilidade, que recentemente foi aventada devido à falta de água para produção de eletricidade, está excluída no que respeita à produção através do carvão, do mesmo modo que não é viável a curto prazo, uma vez que grande parte da maquinaria foi desativada. Por outro lado, para que tal fosse possível, era necessário proceder a um moroso e complicado processo de recrutamento de funcionários. Isto apesar de quase só os mais novos dos antigos operários terem conseguido trabalho. Todos os restantes passaram à situação de pré-reforma ou ainda aguardam por uma ocupação proposta pelo Centro de Emprego.

“As pessoas que pertenciam ao quadro da EDP foram transferidas ou entraram na pré-reforma. Mas esse é um grupo pequeno em relação aos cerca de 400 que então trabalhavam na central. Todos os restantes continuam à espera que o Centro de Emprego lhe arranje algo. Por vezes lá aparece uma possibilidade de ir trabalhar para Santiago do Cacém, mas quando se mora em Milfontes e não há transportes… Ainda por cima com ordenados muito baixos. Fala-se nas formações, mas eu acho que o que houve foram pseudoformações. Creio que houve 28 pessoas que iniciaram um curso de energias renováveis, mas desses muitos nem o concluíram, uma vez que não havia saída. Talvez apenas um terço dessas pessoas tenha sido aproveitada”, contou ao Semmais o sindicalista João Damas.

Atento à possibilidade de a antiga central a carvão voltar a laborar no sistema que vigorou até dezembro de 2020, João Damas confirmou o que uma fonte da EDP já havia dito ao Semmais: Oficialmente o assunto não chegou sequer a ser abordado. “Temos de ser realistas. Essa questão nunca foi colocada”, disse.

 

Produção de hidrogénio verde ainda é uma incógnita

“Fala-se muito na questão da produção de hidrogénio verde e têm sido efetuadas várias reuniões, mas a verdade é que ninguém sabe quando é que esse projeto vai para a frente e em que moldes. Não se sabe quantas pessoas poderão ser empregadas e quando”, acrescentou o dirigente sindical.

João Damas afirma, por outro lado, que uma eventual reabertura da central a carvão implicava também um período de negociações que poderia demorar “muitos meses” para restabelecer os fornecimentos que antes vinham, principalmente, da Colômbia, mas também dos Estados Unidos e da África do Sul. “Dois dos blocos da central já estão desativados. As peças foram para Espanha. O que resta, tal como me diz a experiência, pode já nem funcionar em condições”, referiu.

Por fim, o sindicalista deixa um lembrete: “Em 2017 a produção de eletricidade na central de Sines era apenas de um a três por cento da produção nacional. Os preços que então se praticavam já não eram atrativos. O fator económico é muito importante e teria sempre de ser favorável para que ali se voltasse a produzir energia a partir do carvão”.