Vitória de crise em crise

Como se antevia a situação do Vitória Futebol Clube volta a estar periclitante e com o cutelo da insolvência sobre os ombros. Não há novidade, foram estas as premissas que levaram o clube sadino a descer à terceira divisão e quase a começar de novo em termos competitivos.

Este drama vitoriano é pois uma situação crónica, que tem muitos culpados, nomeadamente uma boa parte das direções que se sucederam desde os finais do século passado. Gestão ruinosa, equipas de futebol muito onerosas, com orçamentos não adequados à situação financeira do clube e menos ainda ao portfólio de receitas.

Do mesmo modo, boa parte desses dirigentes não ousaram empreender planos estratégicos que pudessem angariar novas receitas, novos fundos por via da marca Vitória, ou ainda cativar verbas ao abrigo do mecenato empresarial. Que me lembre, a única porta aberta para ajudar a atamancar as dificuldades rotineiras e acumuladas da instituição vitoriana situa-se, ainda hoje, na Praça do Bocage.

O problema é que as sucessivas crises acumularam diversos problemas, que não só o financeiro. O Vitória Futebol Clube está descredibilizado e, a manter-se o atual estado da situação, só resta mesmo fechar portas de vez, o que significará uma quase hecatombe para a cidade e para a massa adepta e simpatizante deste grande emblema nacional.

Nunca percebi porque é que o Vitória nunca se conseguiu afirmar como um verdadeiro clube regional. Nem nos tempos em que outras agremiações congéneres do distrito tinham perdido todo o fulgor, enquanto os sadinos ainda davam cartas entre os maiores do futebol nacional. Como nunca percebi, com o advento da SAD, a gestão da abertura de capitais ao exterior e a política das parcerias estratégicas.

Chegamos, pois, ao fundo. Com direções voluntariosas, mas incapazes de gerir as necessidades da organização e, bem assim, projetar um futuro ambicioso para esta grande instituição. Esta falta de visão e a incapacidade de deixar para trás algum provincianismo que ainda lateja para os lados do Bonfim, não oferecem campo de manobra para recuperar a marca.

Fala-se, hoje, na possibilidade – como já aconteceu em alguns outros clubes em Portugal – de deixar cair o Vitória Futebol Clube e fazer renascer um ‘outro’ Vitória de Setúbal. É um caminho, ainda que não seja um processo linear, devido aos ativos que estão em jogo, tão necessários para empreender essa eventual virada. Mas se não houver outro caminho, pode ser uma luz ao fundo do túnel.