O espetáculo mediático que continuamos a assistir todos os dias a pretexto da figura de André Ventura começa a ser tortuoso. E a culpa não é do próprio, mas sim de uma comunicação social que tem andado a reboque e não tem sabido preservar os equilíbrios da sua gestão editorial. Muito menos garantir os valores sagrados da imparcialidade e o rigor vital para dar ou retirar palco ao show dos atropelos à democracia, às falsidades e, não raramente, à mentira.
A verdade é que André Ventura tornou-se mestre em manipular a atenção mediática. Cada frase provocatória é pensada para gerar manchetes e discussões em horário nobre. A comunicação social, em vez de relativizar, cai no jogo, pois amplifica, repete e transforma cada saída de tom em “tema nacional”. E, com isso, abre caminho para que os comentadores de serviço queimem etapas no processo de comunicação ‘step by step’, ficando apenas pela motivação da mensagem, numa análise à queima-roupa das tiradas do líder do Chega.
O resultado é simples e muito pernicioso: Ventura cresce nos ecrãs e vai crescendo nas urnas. Não é o peso político que explica a sua presença constante, é o espetáculo mediático que ele próprio sabe provocar. Ao segui-lo de perto, os media deixam-se dominar pelo agenda setting do Chega e empobrecem o debate público.
Noticiar não é problema, mas sim a desproporção que temos vindo a assistir e a normalizar. Enquanto outros partidos mal aparecem, Ventura é promovido a protagonista permanente. E esta realidade está a atingir todos os limites do razoável, colocando a função jornalística mais em causa do que já está. A comunicação social devia escrutinar, contextualizar, relativizar.
Em grande parte das situações, os media limitam-se a carregar este líder aos ombros. E não deixa de ser constrangedor que, mesmo perante o maior dos disparates repetidos por Ventura e seus apaniguados, não haja nenhum contraditório.
Por mim, que ando nisto há muito tempo, está na hora de perguntar se o jornalismo português quer ser palco de espetáculo ou espaço de escrutínio?