Lisnave quer regressar à construção naval nos estaleiros da Mitrena em Setúbal

Empresa garante ter mão de obra e infraestruturas e admite já ter recusado projetos para não colidir com a atual concessão. Construção de embarcações para a Defesa surge como uma das grandes oportunidades de negócio.

A Lisnave, que deverá concorrer ao novo concurso para a concessão dos estaleiros navais da Mitrena, em Setúbal, manifestou durante a Porto Maritime Week, que decorreu entre 22 a 26 de setembro, a intenção de retomar a construção naval naquele complexo.

“Sentimos falta de licença para construir há mais de cinco anos. Enquanto outros estaleiros europeus avançam, inclusive em áreas como os navios de passageiros de grande porte, temos perdido oportunidades. Não falamos apenas de navios completos, mas também de blocos e cascos para montagem noutros estaleiros. Há cinco anos que perdemos negócios por não termos autorização”, afirmou ao Semmais Luís Braga, diretor comercial da Lisnave.

O responsável revelou que a empresa já recusou várias propostas para a construção de blocos ou cascos, precisamente por não dispor de licença. “Preferimos não correr riscos e manter-nos fora dessa zona cinzenta”, sublinhou.

Quanto às condições atuais da Mitrena, Luís Braga garantiu que, para blocos e cascos, a Lisnave já dispõe de meios humanos e técnicos. Mas admite que, para navios completos, seria necessário reforçar as equipas, sobretudo na engenharia.

Navios da Marinha são grande oportunidade

Entre as possibilidades em estudo, destaca-se a construção de embarcações para a Marinha Portuguesa, enquadrada no atual contexto político e no reforço do investimento europeu em defesa. “Há quatro anos apostámos nas renováveis offshore e na reciclagem naval. Hoje, a conjuntura internacional traz novas variáveis, incluindo a possibilidade de construirmos navios militares. Se a Marinha precisar e tivermos condições, não faz sentido procurar noutros países”, defende o diretor comercial.

A concessão da Mitrena termina em 2027, mas o concurso lançado pelo Governo deverá arrastar-se no tempo. Ainda assim, Luís Braga mostra-se confiante: “Estamos a preparar a candidatura para vencer. Temos mais de duas décadas de trabalho de referência que nos dão vantagem”.

Em termos financeiros, a Lisnave registou em 2024 um lucro de 6,4 milhões de euros, após o recorde histórico de 16 milhões em 2023. No último exercício, faturou 128 milhões de euros (menos 26% face a 2023), com uma redução de 21% nos custos, para 118,3 milhões.