Saúde familiar para todos

EM CONTRACICLO, com as vozes que têm vindo a defender acerrimamente a construção de (mais) um novo (mini) hospital no concelho do Seixal, considero que a atribuição de enfermeiro e médico de família para todos os cidadãos do distrito de Setúbal deve ser o nosso desígnio. 

Não é aceitável que em pleno 2020, 5 anos depois da saída da troika e no segundo mandato de um governo socialista suportado pelo BE e PCP, existam dezenas de milhares de utentes neste distrito sem equipa de saúde familiar que lhes preste assistência.

Os cuidados de saúde primários, tão subvalorizados por estes governantes não correspondem às necessidades dos residentes nos 13 concelhos, potenciando a afluência desnecessária e exagerada aos S.U dos 4 hospitais públicos existentes no distrito, sobrecarregando os profissionais e piorando a qualidade da assistência a situações realmente urgentes. 

É também difícil perceber como é que se planeia a contratação de profissionais de saúde para um  novo(mini) hospital no Seixal, quando já hoje, existem falhas nas escalas de várias especialidades, tendo de se recorrer à contratação de serviços externos de médicos e enfermeiros especialistas para o Hospital Garcia de Orta, Centro Hospitalar Barreiro-Montijo, Centro Hospitalar de Setúbal e Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano.

Não existem respostas simples para problemas complexos, mas a construção de mais um hospital e nos moldes que são conhecidos (seis dezenas de camas de internamento médico-cirúrgico), não será nunca uma solução, mas sim a criação de mais um problema para o distrito, criando falsas expectativas nos cidadãos que pretendem melhores cuidados e menores listas de espera e um funcionamento de um novo espaço que se prevê de antemão que não conseguirá responder a essas exigências. 

O caminho reside na aposta na redução da carga de doença e no incremento do bem-estar das pessoas, envolvendo os Conselhos de Comunidade dos ACES, promovendo a entrada em funcionamento dos Conselhos Municipais de Saúde nos concelhos onde não existam, democratizando a elaboração dos Planos Locais de Saúde, eliminando os  espartilhos ideológicos fossilizados no tempo e, sobretudo, investindo fortemente nas acções que permitam o alargamento da literacia para a saúde das populações.

O nosso desígnio não se limita à exigência de equipas de saúde familiar atribuídas a todos os cidadãos do distrito de Setúbal, pois para além disso, é imprescindível a existência de horários mais alargados nos Cuidados de Saúde Primários, para que a disponibilidade dos recursos humanos altamente qualificados exista durante os 365 dias do ano e não apenas em situação de contingência. 

ATUALIDADES

Emanuel Boieiro

Dirigente do Sindicado dos Enfermeiros