Para além da esquerda e da direita

PAZ, tranquilidade, harmonia, abundância são palavras que associamos a “Paraíso” e… Justiça também porque, ao Paraíso ascende-se por mérito. A Humanidade busca eternamente o Paraíso, o Jardim, os Campos Elíseos… 

A fé num Paraíso celeste é a base de religiões e raiz das utopias, mas a harmonia que idealizamos pode facilmente ser transformada num verdadeiro inferno. Vem isto a propósito da clássica divisão entre esquerda e direita. A esquerda progressista… a direita conservadora… 

Voltemos à religião para depois regressar à política: a (mão) direita era tradicionalmente considerada benéfica, já a esquerda (sinistra, em latim), era considerada maléfica; com uma preparavam-se os remédios com a outra, os venenos. 

Em plena Revolução Francesa, na Assembleia Nacional, os Girondinos (moderados) sentavam-se à direita e os radicais Jacobinos, à esquerda.  A expressão surge, pois, para explicar o espectro político de há 250 anos e admito que nessa época, uns querendo conservar a “normalidade” e outros querendo, por força, “progredir” ficassem satisfeitos com a designação “direita”, “esquerda”. Desde então, muito mudou: a direita conservadora e a esquerda progressista ambas quiseram criar o seu Paraíso; ambas criaram verdadeiros infernos. As utopias estão longe de serem perfeitas. Todas têm um “não sei quê” de totalitarismo que as leva a desconfiar daqueles que dizem “só sei que não quero ir por aí”. E assim, se criam inimigos, bodes expiatórios, regimes infernais capazes de tudo para conquistar e manter o poder. Os amigos de ontem, tornam-se adversários e inimigos por um simples desacordo. O diálogo cede progressivamente ao monólogo de quem garante saber o caminho. Tem sido assim em todas as experiências em que sociedades inteiras se deixaram capturar por ideais que à direita ou, à esquerda prometiam um mundo novo, um Paraíso na Terra. 

Quantas vezes assim é nas redes sociais, onde trogloditas de ambos os quadrantes se digladiam em discursos de intolerância e ódio? O pior cego é o que não quer ver – quantas pessoas são vítimas da cegueira ideológica?

À maior parte dos cidadãos interessa bem-estar, segurança, Justiça e esperança num futuro melhor. A função do Estado é a de manter o equilíbrio entre os interesses colectivos e os individuais, oferecendo soluções credíveis e sustentadas para os problemas. Por isso hoje, como sempre é necessário criar uma cultura de participação e exigência capaz de revitalizar as instituições democráticas e de as preparar para o futuro sem demagogias ou falsas promessas, por isso, são tão necessários cidadãos que nos partidos, no movimento sindical, no mundo empresarial, na sociedade civil sejam informados, críticos, exigentes, participantes e capazes de enfrentar os desafios do presente com os olhos fixos no futuro.

CRÓNICAS DISTO E DAQUILO
Catarina Tavares
Dirigente Sindical