TEM JEITO de nota de imprensa, e caso já tenha conhecido projecção hoje e aqui é só porque o 6 de Março se aproxima, 99 anos depois da fundação, entre trabalhadores, do Partido Comunista Português. Mas não só, tolere-se, porque cerca de oitenta militantes e simpatizantes deste participaram no domingo, dia 16, nas instalações do Rancho Folclórico Regional da Palhota e Venda do Alcaide, na Freguesia de Palmela, num almoço-convívio comemorativo do 89º aniversário do Avante!, cuja primeira edição datou de 15 de Fevereiro de 1931, sob a repressão fascista.
Dirigida por Mónica Costa, da Comissão de Freguesia do Partido, na iniciativa tomou a palavra Armando Morais, membro da Comissão Central de Controlo, que em particular destacou o facto histórico da tipografia clandestina do jornal ter caído nas mãos da PIDE em 1938 mas logo este voltar a editar-se em Agosto de 1941 e, caso único de combate à ditadura tão prologada em todo mundo, sempre ininterruptamente até ao 25 de Abril de 1974. Precisamente nesse mês da Revolução o jornal comunista, dias antes de ser impresso e distribuído em Liberdade, voltava a augurar: «aliar à luta antifascista os patriotas das Forças Armadas».
Ladeado ainda por Ana Costa, militante também com responsabilidades locais, Valdemar Santos, da Direcção da Organização Regional de Setúbal, e Luís Barata, igualmente membro deste organismo e do Comité Central do PCP, Armando Morais foi ele próprio portador de alguns exemplares do Avante! da resistência, antecedido por uma alocução de Fernando Casaca, actor e Director do Teatro do Elefante, de Setúbal. E este disse: «Eles já não usam botas cardadas… Eles habitam as nossas cidades… em 1001 disfarces». «Eles acompanham-nos dentro dos nossos bolsos, onde colecionamos mensagem e amigos virtuais… nos ecrãs… Lançam ódio e falsas notícias, nos lugares onde devia haver honestidade e verdade. Nas escolas, nas fábricas, nos locais de lazer. Criam falsas realidades, com que nos querem alienados e submissos… Celebram o fim da História, das ideologias, e exploram com as suas próprias ideologias a nossa força de trabalho ou a nossa liberdade de pensamento e criação…»
«Mas há quem, há quase cem anos – um colectivo…» – é pena estarmos a cortar tanto, não é? – «… O exemplo desses homens e mulheres, clandestinos por direito próprio, por serem livres – muito mais livres que os seus carrascos, do que os verdugos que os perseguiram, torturaram e, tantas vezes, mataram – o seu exemplo é, hoje, o nosso património de lutas.
Das lutas das classes, de todos os tempos e de todos os lugares, enquanto um Homem (um único homem, que seja) explorar outro Homem», terminando, «em jeito de desafio», a citar o Avante! da 4ª semana de Agosto de 1937, série II: «Depois de leres este jornal, não o destruas. Envia-o a um católico, a um legionário iludido ou a um militar. Assim cumprirás com o dever de antifascista».
POLÍTICA E CULTURA
Valdemar Santos
Militante do PCP