Diversos chefes de serviços podem também cessar funções. Ordem dos Médicos apela aos utentes e entidades distritais que intercedam para que seja possível reforçar as várias especialidades.
O diretor clínico do Centro Hospitalar de Setúbal demitiu-se na quinta-feira e, atrás dele, diversos outros chefes de serviços ponderam fazer o mesmo. A rutura com o concelho de administração estava anunciada há muito e agora, para que o principal hospital do distrito possa voltar a funcionar na plenitude, os médicos apelam à mobilização dos utentes e entidades públicas e privadas para que, finalmente, sejam libertadas as verbas necessárias para fazer o reforço de meios humanos e materiais.
Nuno Fachada, que exercia as funções de diretor clínico, confirmou ao Semmais a sua demissão. Não quis, no entanto, adiantar qualquer explicação, avançando somente que “as pessoas estão a ser informadas, pelo que fazer agora qualquer depoimento é extemporâneo”.
Para Jorge Espírito Santo, membro da sub-região de Saúde da Ordem dos Médicos (OM), a demissão de Nuno Fachada, assim como a eventual saída de vários outros chefes de serviços, não constituiu qualquer surpresa. “Isto vem na sequência de tudo o que se estava a passar. Provavelmente nenhuma das promessas feitas foi cumprida”, disse ao nosso jornal.
O mesmo responsável, que declarou não saber quais são as futuras eventuais saídas, disse ainda que para que a unidade hospitalar possa retomar, quanto antes, o funcionamento normal, “é necessário que a comunidade seja mais interventiva”. “Os utentes, mas também todas as restantes entidades, como por exemplo as câmaras municipais dos concelhos que usufruem dos serviços hospitalares, deverão unir-se e fazer ver à tutela quão urgente é repor os quadros clínicos”, afirmou.
“Na passada semana, numa reunião com a administração, o bastonário da OM e o secretário de Estado da Saúde, os médicos compareceram em força e manifestaram, tanto o seu desagrado total como também a saturação pela situação que se verifica há muito tempo. Foi salientado, por todos, que os serviços se encontram nos limites e que o pessoal médico e de enfermagem estão cansados. Os médicos estão cansados de tanto trabalho ainda por cima desenvolvido em condições pouco consentâneas”, adiantou Jorge Espírito Santo.
Na sequência da visita dos responsáveis ministeriais e da OM, viriam a ser denunciadas as condições de precariedade existentes no Hospital de Setúbal, com dezenas de doentes deitados em macas espalhadas pelos corredores da urgência. Os clínicos terão então acordado uma nova reunião, que se realizou esta semana, sendo que nesse encontro, depois de constatarem que não havia qualquer evolução no que diz respeito ao reforço do quadro clínico, vários colocaram a hipótese de se demitirem.