As labaredas que não dão lições

O grande incêndio de Palmela dinamitou uma onda de consternação, de susto, preocupação e muitas críticas. É fácil perceber o que aconteceu, nesta onda de incêndios que varre parte do país, porque já havia alertas para estas temperaturas loucas, para os ventos que não poucos e para as baixas humidades. É este o fermento que aciona o risco. E o resto também se sabe, uma floresta desordenada, pouco cuidada, a falta de zelo de proprietários e uma administração pública que podia fazer mais.

Tudo isto é certo. Mas ninguém poderá dizer que todos os governos, e desde há muitos anos, não têm procurado redesenhar medidas de controle, de prevenção e alavancado esforços financeiros para recursos humanos e meios de toda a espécie para evitar que estes eventos se tornem grandes catástrofes.

Não tem sido possível prevenir tudo, resolver tudo, muito menos evitar este descontrolo.

O problema é que, infelizmente, vamos ter que conviver com estes fenómenos extremos, porque continuamos a não aceitar a derradeira luta contra as alterações climáticas. E, neste aspeto, a culpa é de todos. Mesmo dos que por estes dias afiam lanças aos governantes, como se tivessem capacidade para resolver este drama e proclamar o fim dos incêndios.

Sim, o incêndio de Palmela chegou perto de minha casa, mas não consigo disparar assim tão facilmente sobre tudo e sobre todos. Há, antes, um sentimento de impotência e uma enorme gratidão aos bombeiros e outros operacionais que tudo fizeram para salvar habitações, animais e proteger as populações mais próximas.

São lições que nos devem fazer pensar à escala global. Não são mais uns meios aéreos, mais uns homens no terreno, que vão travar estas tragédias.

Com a acalmia do clima, talvez se devesse desbravar o caminho do entendimento para encontrar novas soluções no terreno, endurecendo medidas, regras e penas, de modo a desatar estes nós que põem a causa a segurança de pessoas e bens, privados e públicos.

O fogo, esse, paira em Portugal, na Europa e, em ciclos, por cada canto do mundo. É o planeta, esta casa comum, que está em risco contínuo.

Raul Tavares
Diretor