Os Serviços Centras da Câmara do Seixal receberam, na passada segunda-feira, o encontro com a temática “Democracia e Poder Local na Defesa dos Valores Ambientais”, que integra o “Ciclo de Conferências – 20 anos a Tratar o Futuro da Região”, no âmbito do 20º aniversário da SIMARSUL.
Na abertura desta conferência, Paulo Silva, presidente da câmara do Seixal, destacou a oportunidade deste evento, num ano em que se celebra os 50 anos do 25 de abril, já que a revolução, de acordo com a nota recebida, para o autarca foi “um marco nas temáticas do saneamento e do ambiente”. Nesse sentido, o edil, segundo o mesmo texto, recordou que antes do 25 de abril “a rede de esgotos do concelho estava canalizada para a Baía do Seixal, produzindo maus cheiros” e que se hoje a “a Baía é um ex-libris”, tal deve-se ao trabalho de “de excelência”, iniciado pelo “poder local democrático” e recentemente pela SIMARSUL.
José Furtado, presidente do Grupo Águas de Portugal, por sua vez, sublinhou a importância deste ciclo de conferências, no âmbito dos 20 anos da SIMARSUL, é uma oportunidade para que estas figuras e entidades “estarem juntos” e “fortalecer os elos que umem o poder local ao poder central”. O responsável recordou ainda, na sua intervenção, as preocupações do futuro, considerando estar colocado um desafio de “alterar o paradigma” para a “maior batalha do século – o clima”, que estabelece “novas exigências ambientais”. Na opinião de José Furtado, referido na nota, estas exigências estão além do “mero tratamento de saneamento”, devendo-se colocar medidas específicas no texto da “da digitalização do sistema, que se desenvolva a circularidade da água, na sua reutilização, de forma a combater a escassez, assim como o reaproveitamento das lamas para a indústria, agricultura ou energia”. Para o presidente do Grupo Águas de Portugal, este novo paradigma é decisivo para a “descarbonização do ciclo urbano da água e para a redução dos custos de energia”.
Mesa-redonda fez viagem pelos avanços desde abril
Na mesa redonda, dedicada ao assunto “Perspetivas do Passado ao Futuro”, moderada por Alfredo Monteiro da Costa, autarca do Seixal à data da criação do sistema multimunicipal da SIMARSUL, estiveram à conversa nomes como Joaquim Tavares, Vereador do Pelouro das Obras Municipais, Trânsito, Água e Saneamento, Energia e Proteção Civil da Câmara Municipal do Seixal, Sofia Martins, Secretária-Geral da Associação de Municípios da Região de Setúbal, António Correia de Campos, Professor Catedrático na Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, Luísa Schmidt, Socióloga e Investigadora no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e João Pato, Investigador na Universidade de Lisboa e na Netherlands Environmental Assessment Agency, seguindo-se ainda um momento de considerações por parte de Raúl Tavares, diretor do Semmais, como relator convidado.
Houve uma grande preocupação no conjunto das intervenções em recuperar as condições precárias que existiam antes do 25 de abril e as conquistas e avanços conseguidos desde então. Luísa Schmidt por exemplo, recordou que, antes da revolução, “59% da população não era servida por uma rede de esgotos, 40% não tinha retrete e era deficiente o abastecimento de água”. A socióloga destacou que após a revolução o “abastecimento de água e o saneamento tornou-se prioridade”, verificando-se efetivas “profundas mudanças quantitativas e qualitativas”.
No mesmo sentido foi a intervenção de João Pato, que recordou, por exemplo, os surtos de cólera em 1971 e 1974, na sua opinião provocados pelas más condições de abastecimento, esgotos e saneamento. Para o investigador atualmente no nosso país não existe “perceção dos problemas ambientais” e tal resulta do facto das pessoas terem “água potável em casa” e poucas “sem saneamento. “As pessoas sentem este como um dado adquirido ter água e ter saneamento”, destacou.
Também Correia de Campos recordou os problemas de saúde pública que existiam, como foram os “surtos de febre tifoide regulares”, sublinhando, no entanto, os avanços conseguidos. Prova disso foi a melhoria em indicadores como a redução de mortalidade infantil.
Poder local empenhado na melhoria das condições
Também as autarquias e movimento associativo local tiveram um importante papel nesta melhoria das infraestruturas e consequentes condições de vida da população. Nesse sentido, Sofia Martins (AMRS), destacou o trabalho em conjunto desenvolvido pelas edilidades nesta região, representativo no trabalho e ação desta associação. A responsável considerou ainda que “que a regionalização é um caminho indispensável para que se possa pensar o território no seu todo e desenvolver o seu potencial”.
Joaquim Tavares (Câmara Seixal), por sua vez, lamentou que o “ambiente devia ser preocupação na melhoria da qualidade de vida das populações”, apontando que é “cada vez mais um negócio”. “Não podemos andar aos sabores dos interesses económicos”. O autarca aproveitou para destacar o “bom trabalho da SIMARSUL”, não deixando de recordar a reivindicação de que “51% do capital da empresa seja dos municípios”. O vereador sublinhou também a importância do futuro sistema de tratamento de águas residuais e abastecimento de água no território do Arco Ribeirinho Sul integrarem as redes do município, assim como a “necessidade imperiosa” de ser pensado um “um futuro abastecimento de água” num modelo que sirva os municípios da península de Setúbal.
“Um futuro melhor, sustentável, para o território”
No encerramento desta conferência, Francisco Narciso, Presidente do Conselho de Administração da SIMARSUL, sublinhou os 20 anos da empresa como uma “idade bonita”, mas acima de tudo um momento para olhar para “grandes desafios climáticos e outros”, onde esperam fazer “um futuro melhor, sustentável, para o território”.
O responsável destacou, por exemplo, neste olhar para o futuro, a importância do diálogo e do trabalho de proximidade, “ouvindo em particular as populações servidas, os municípios, as principais instituições”. “Vamos continuar a enfrentar, mantendo os progressos obtidos, não baixar a guarda e dar um contributo contínuo, que começam nos mais pequenos gestos, por exemplo, no encaminhamento de resíduos e óleos, ou, acelerando a economia circular da água e ação pelo clima”, sublinhou Francisco Narciso.