Associação dos Agricultores do Distrito de Setúbal diz que a atividade está dependente da água do Alqueva. Produtores não compreendem recusa da APA em autorizar abertura de dois furos na Herdade da Comporta.
As plantações de arroz deste ano previstas para as zonas do Carvalhal, no concelho de Grândola, e Comporta, no município de Alcácer do Sal, correm o risco de não se realizarem. A falta de água é o motivo avançado pela Associação de Agricultores do Distrito de Setúbal, que se queixa também da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), que há seis meses recusou a abertura de dois furos para fins agrícolas na Herdade da Comporta.
“São cerca de uma centena de pequenos e médios agricultores que correm o risco de, no final de abril e início de maio, não terem os terrenos devidamente alagados para poderem plantar arroz. Apesar de estarmos à espera de receber alguma água vinda da Barragem de Alqueva, a mesma pode não chegar para as necessidades. Tudo depende da disponibilidade da EDIA para a ceder”, disse ao Semmais o porta voz da Associação de Agricultores do Distrito de Setúbal, José Pereira.
De acordo com este responsável, os problemas que agora se avizinham “teriam sido facilmente ultrapassados” caso a APA, em outubro do ano passado, tivesse autorizado a abertura de dois furos na Herdade da Comporta. “Não nos deixaram fazer os furos para esta atividade agrícola, mas autorizam a abertura para fins turísticos”, afirmou.
Ainda sem poder estimar eventuais prejuízos, José Pereira lembra que caso não se faça a produção deste ano, os agricultores associados e todos os restantes que trabalham individualmente nas zonas da Comporta e Carvalhal podem ter o mesmo destino dos que utilizavam a água da Barragem de Campilhas para o mesmo fim: “Há cerca de quatro anos a barragem secou e toda a atividade agrícola, nomeadamente a plantação de arroz, cessou. São dezenas de famílias que ficam sem rendimentos”.
Investimento em sementes pode ser comprometido
José Pereira, referindo-se aos produtores dos concelhos de Grândola e Alcácer do Sal, lembrou também que caso os terrenos de cultivo não sejam rapidamente alagados, muitos produtores podem somar prejuízos devido ao apodrecimento das sementes já compradas. “Já no ano passado esse foi um problema que se colocou. Houve atrasos. Havia sementes compradas e não havia água nos campos”, referiu.
O representante dos agricultores diz, por outro lado, que também os fatores de produção têm, atualmente, custos que são bem mais elevados do que as contrapartidas financeiras. “No distrito de Setúbal há muitos agricultores que estão a trabalhar para aquecer, que estão a pagar para produzirem. As importações de arroz, sobretudo da Ásia, estão a aumentar e com isso condena-se a produção nacional”, acrescentou.
“Tudo o que obtivemos com o anterior Governo está agora condenado. Muda-se o Governo e mudam-se as políticas relativamente à agricultura. Andamos ao sabor destas alterações dos ministérios e acabamos sempre por sair lesados. A agricultura não se compadece que mudanças nos cargos políticos”, lembra o mesmo dirigente dizendo que os agricultores do distrito não descartam a possibilidade de voltarem a efetuar marchas de protesto caso, não sejam atendidas as reivindicações que pretendem dotar o setor de maior competitividade económica.